sexta-feira, agosto 31, 2012

Toques do Preto Velho

TOQUES DO PRETO VELHO


Lá  nos planos sutis, aonde  vocês muitas vezes  vão quando dormem,  mas ao acordarem não  se lembram, existe uma  grande família espiritual  a lhes esperar, velar  e torcer por vocês.  Quebrem a barreira vibracional  com sentimentos e pensamentos  elevados, levando seus  corações até eles.  Mate a saudade espiritual  que existe dentro do  seu peito. Deixe a  intuição fluir. Os  guias espirituais não  são mestres intocáveis  que vocês devem reverenciar,  mas sim, são amigos  de jornadas. Conheça  - os, converse com  eles, trabalhem juntos,  mas sorriam e brinquem  juntos também. Eles  estão te esperando. 

Mediunidade  é coisa importante  e séria, mas não  diviniza nem inferioriza  ninguém. Vocês sabem  disso. Tem gente que  pensa que ser grande  médium é praticar  fenômenos para “incrédulo  ver”. Outros pensam  que é se vestir  todo com uma fantasia,  “virar os olhos”  e “rebolar” bastante.  Não! Mediunidade é  você trabalhar em parceria  com os amigos do  lado de cá para  o bem de todos,  apenas isso.  

Vocês  complicam muito as coisas. Na verdade  tudo é muito simples. Pense na manifestação  das criancinhas durante um processo mediúnico.  Existe algo mais simples e belo do  que isso?
Parem de julgar a manifestação mediúnica ou a experiência do outro. Você pode até não concordar, mas caso para ele faça sentido, deixe. É dele! Isso lembra muito a postura daquele que não consegue fazer melhor e por isso mesmo vive a criticar e apontar o defeito dos outros. As experiências espirituais muitas vezes são de foro íntimo, cada um busca a sua. E cada um fique feliz com a sua!  



Aprendam  também que a dedicação  e o estudo ajudam  muito. Mas o que  realmente conta é o  seu dia – dia,  como pessoa comum, passando  pelo crivo do grande  mestre que é a  vida. Não adianta nada  estudar muito e praticar  pouco, principalmente em  relação a humildade,  tolerância e amor. 

Fazer  caridade é muito bom. Se alem disso  buscam esclarecer as pessoas, melhor ainda.  Tem gente que acha que doando uma  cesta básica de Natal ao desencarnar  será “salvo”. Outros ainda se acham muito especiais e caridosos, verdadeiros missionários. Não caiam nessa bobagem. Saibam que, em verdade, ao auxiliar os outros vocês ajudam a si próprios. E quando fizer a caridade, também não apenas dê o peixe, ensine as pessoas a pescarem. “Caridade de consolação” ergue a pessoa, mas depois que ela já está de pé, está na hora de ensiná-la a andar, com a “caridade de esclarecimento”. Pensem nisso! Caridade faça sempre que surgir a oportunidade de auxiliar o irmão. Esclarecimento leve a todos os lugares, fazendo a sua aura brilhar e contagiando as pessoas com alegria e vontade de viver. 

Trabalho  em grupo é coisa  séria, deve haver amizade,  alegria, mas não é  reunião social. Os  guias escutam os seus  pensamentos e não estão  nada interessados em  suas preferências físicas,  nem em suas “paqueras”  dentro do grupo, nem  dão importância a  isso. Tão pouco são  cúmplices das fofocas,  guerras de vaidade e  ciúmes que existem  dentro do mesmo. Um  trabalho espiritual em  grupo é uma benção  e oportunidade única  de evolução, tanto  de encarnados como desencarnados.  Aproveitem bem!


Existe  um montão de mestres esperando por vocês  desse lado, mas muitas vezes eles não  conseguem lhes amparar, afinal vocês não  páram de pensar no “vizinho”, ou  como a vida é difícil e injusta  com vocês… 
Os  Orixás, os Mestres, os Anjos, os Devas,  todos Eles amam a humanidade. Caso queiram  fazer um ritual a algum Deles, tudo  bem. Mas lembrem - se sempre: Vela  acesa só tem valor se o coração  estiver aceso antes. Caso contrário, não! 

A  energia de uma erva é poderosa e  realmente cura, mas antes, suas próprias  energias e o respeito com a vida  vegetal devem ser grandes, caso contrário,  é desperdício de tempo. Qualquer ritual  de magia para o bem é lindo e  bem quisto pela espiritualidade, mas não  se perca no meio de muitos rituais  e elementos e esqueça o essencial. 

O  grande mestre da magia  é o coração, e a grande força motriz é a sua mente. Lembrem - se disso. 
Não  sejam espiritualistas pela  metade. Durante o dia  vocês ficam pensando  em espiritualidade, mas  ao dormir, que é  a grande hora onde  o espírito se liberta  do corpo físico, vocês  não pensam em nada,  ficam com preguiça  e logo suas mentes  são invadidas por um  monte de coisas, adormecendo  na mais perfeita desordem.  No mínimo orem ao  deitar-se. Agradeçam o  dia, coloquem - se à  disposição do aprendizado,  aproveitem as horas  de sono. Elas são  chaves de acesso ao  crescimento espiritual. Meditem  nisso. 

Eu  sou um preto-velho.  Pouco importa minha  forma ou meu nome.  O que importa é  que eu sou luz,  como vocês e todos  nós, filhos da Grande  Luz. O sol brilha  em meu coração, no  seu e em toda humanidade.  Você ainda tem preconceito  em relação a raças?  A culturas diferentes?  Religião? E julgam  - se espiritualistas?  Ora amigo, deixe disso!  Lembre – se: todos  viemos da mesma fôrma. Eu  tenho apenas uma palavra  para descrever o preconceito:  ignorância
Ignorância  também são as paredes  e preconceitos religiosos.  Todos os mestres da  humanidade pregaram o  desprendimento, mas o  que os seus seguidores  mais fazem é ter  o sentimento de posse  em relação a Eles.  E lá se vão guerras,  ofensas e desarmonia  entre uma religião  e outra. E lá  se vão discussões  infindáveis entre doutrinas  diferentes. Todos os  caminhos levam a Deus,  mas muitos acham que  seu caminho é melhor  do que dos outros,  não é mesmo? Façam  um favor à humanidade,  meu filhos: vão voando  nas asas do universalismo  ecumênico! E parem  com essas bobagens…
Do  lado de cá nós  adoramos música. Ela  rejuvenesce a alma,  acorda o coração e  desperta a intuição.  Aproveitem as músicas  de qualidade. Elas são  ótimas e verdadeiro  brilho e alimento para  vossos espíritos. Também  escutem a música que  os espiritos superiores  cantam secretamente dentro  do coração de cada  um. É a música  da Criação, ela está  em todos, mas só  pode ser escutada quando  a mente silencia e  o coração brilha.  Pensem nisso! 

Pensem  também na natureza. Coloquem uma música  suave. Direcionem - se mentalmente a um  desses sítios sagrados, verdadeiros altares  vivos do amor de Deus. 
Pensem na força curativa das matas, na força amorosa e pacificadora das cachoeiras, da limpeza energética que o mar traz ao espírito. Meditem neles. Isso traz sintonia, reciclagem energética e boa disposição. Façam isso por vocês e fiquem bem! 

Por  fim, dediquem - se  mais ao auto-conhecimento.  Ele é muito importante.  E um dia, mesmo  que isso demore milênios,  vocês se conhecerão  tanto que realmente  descobrirão sua natureza  divina. Nesse dia, as  cortinas da ilusão  se abrirão e você  verá o universo a  sua frente. Não existirá  mais Orun* (céu) nem  Ayê* (mundo material).  Nem eu nem você.  Apenas Ele…Pai e Mãe dentro  de nós mesmos!
Um  Grande abraço
Pai Antônio de Aruanda e Fernando Sepe 
 

(escrito por duas  mentes em um só  coração) Para quem não sabe, Pai Antônio de Aruanda é uma das amadas entidades representativas da falange dos Pretos Velhos que trabalham na Umbanda e em muitas outras linhas de trabalho como no Espiritismo, muitas vezes se apresentando com outra roupagem e aparência em virtude do preconceito. Fernando Sepé é escritor e jornalista em São Paulo.  

Paz  e Luz

quinta-feira, agosto 30, 2012

Razões para acreditar em DEUS


RAZÕES PARA ACREDITAR EM DEUS  

Por A. CRESSY MORRISON Ex-presidente da Academia de Ciências de Nova York (Leiam o que este cientista diz sobre Deus e a Ciência)

 "NÓS AINDA ESTAMOS NO AMANHECER da era científica, e todo o aumento da luz revela mais e mais a obra de um Criador inteligente.
Nós fizemos descobertas estupendas; com um espírito de humildade científica e de fé fundamentada no conhecimento estamos nos aproximando de uma consciência de Deus.
 Eis algumas razões para minha fé:
 Através da lei matemática podemos provar sem erro que nosso universo foi projetado e foi executado por uma grande inteligência de engenharia.
Suponha que você coloque dez moedas de um centavo, marcadas de um a dez, em seu bolso e lhes dê uma boa agitada.
 Agora tente pegá-las na ordem de um a dez, pegando uma moeda a cada vez que você agita o bolso.
 Matematicamente sabemos que a chance de pegar a número um é de um em dez; de pegar a um e a dois em sequencia é de um em 100; de pegar a um, dois e três em sequencia é de um em 1000 e assim por diante; sua chance de pegar todas as moedas, em sequencia, seria de um em dez bilhões.
 Pelo mesmo raciocínio, são necessárias as mesmas condições para a vida na Terra ter acontecido por acaso.

 A Terra gira em seu eixo 1.609,3km/h no Equador; se ela girasse 160,93km/h, nossos dias e noites seriam dez vezes mais longos e o Sol provavelmente queimaria nossa vegetação de dia enquanto a noite longa gelaria qualquer broto que sobrevivesse.
 Novamente o Sol, fonte de nossa vida, tem uma temperatura de superfície de 5537,78ºC, e nossa Terra está distante bastante para que esta "vida eterna" nos esquente só o suficiente!
Se o Sol desse somente metade de sua radiação atual, nós congelaríamos, e se desse muito mais, nos assaria.
A inclinação da Terra a um ângulo de 23 graus, nos dá nossas estações; se a Terra não tivesse sido inclinada assim, vapores do oceano mover-se-iam norte e sul, transformando-nos em continentes de gelo.
 Se nossa lua fosse, digamos, só 80.465km mais longe do que hoje, nossas marés poderiam ser tão enormes que duas vezes por dia os continentes seriam submergidos; até mesmo as mais altas montanhas se encobririam.

(Distância Terra > Lua= 384.405km)
 Se a crosta da Terra fosse só 30,04800m mais espessa, não haveria oxigênio para a vida.
(Espessura da Crosta terrestre varia de 5.000 a 70.000km)
Se o oceano fosse só 30,04800m mais fundo o gás carbônico e o oxigênio seriam absorvidos e a vida vegetal não poderia existir.
 É perante estes e outros exemplos que NÃO HÁ UMA CHANCE em um bilhão que a vida em nosso planeta seja um acidente. É cientificamente comprovado, o que o salmista disse:

"Os céus declaram a Glória de Deus e o firmamento as obras de Suas mãos."



domingo, agosto 05, 2012

Como se processam as reencarnações?

 Como se processam as reencarnações?


ATRAVÉS DO CONTATO COM A DOUTRINA ESPÍRITA PODEMOS OBTER RESPOSTAS EM RELAÇÃO AOS ASSUNTOS MAIS INTRIGANTES  DO CONHECIMENTO HUMANO AINDA DESCONHECIDOS PELA IMENSA MAIORIA DA HUMANIDADE.


O QUE SEGUE DEMONSTRARÁ COMO SE PROCESSA A REENCARNAÇÃO, OS CUIDADOS NA LIGAÇÃO DO ESPÍRITO REENCARNANTE COM A FUTURA MÃE, OS ASCENDENTES ESPÍRITUAIS, O TRABALHO PREPARATÓRIO NA ESPIRITUALIDADE QUANTO A ANÁLISE CROMOSSÔMICA, AS FUTURAS DOENÇAS CONGÊNITAS LIGADAS AOS RESGASTES A SEREM EFETUADOS PELO REENCARNANTE.

VEREMOS TAMBÉM O ESTUDO DOS MAPAS DA FUTURA FORMA FÍSICA E O VÍNCULO ENTRE PAIS E FILHOS.

CONHECER O ESPIRITISMO NÃO IMPLICA EM SE RENUNCIAR A ATUAL CRENÇA RELIGIOSA MAS EM ALARGAR OS CONHECIMENTOS PARA ALÉM DOS LIMITES DA MATÉRIA.

PERMITA-SE CONHECER A DOUTRINA ESPÍRITA.

carlos eduardo cennerelli
Pesquisa e Formatação















Oração de Druso (instrutor de André Luiz), antes de sua reencarnação.

AÇÃO e REAÇÃO - Francisco Cândido Xavier – André Luiz - 17ª edição. *  - @1956
 
        Druso ergueu-se e rogou permissão para orar à despedida.
        Todas as frontes penderam silenciosas, enquanto a voz dele se elevou para o Infinito, à maneira de melodia emoldurada de lágrimas.
        - Senhor Jesus - clamou humilde - neste instante em que te oferecemos o coração, dera que nossa alma se incline, reverente, para agradecer-te as bênçãos de luz que a tua incomensurável bondade aqui nos concedeu em cinqüenta anos de amor...
        Tu, Mestre, que ergueste Lázaro do sepulcro, levantaste-me também das trevas para a alvorada remissora, lançando no inferno de minha culpa o orvalho de tua compaixão...
        Estendeste os braços magnânimos ao meu espírito mergulhado na lodosa corrente do crime.
        Trouxeste-me do pelourinho do remorso para o serviço da esperança.
        Reanimaste-me quando minhas forças desfaleciam...
        Nos dias agoniados, foste o alimento de minhas ânsias; Nas sendas mais escabrosas, eras, em tudo, o meu companheiro fiel.
        Ensinaste-me, sem ruído, que somente através da recuperação do respeito a mim mesmo, no pagamento de meus débitos, é que poderei empreender a reconquista de minha paz...
        E confiaste-me, Senhor, o trabalho neste pouso restaurador, com assistência constante de tua benevolência infinita, a fim de que eu pudesse avançar das sombras da noite para o fulgor de novo dia!...
        Agradeço-te, pois, os instrutores que me deste, a cuja devoção afetuosa tão pesado tenho sido, os companheiros generosos que tantas vezes me suportaram as exigências e os irmãos enfermos que tantos ensinamentos preciosos me trouxeram ao coração!...
        E agora, Senhor, que a esfera dos homens me descerrará de novo as portas, acompanha-me, por acréscimo de misericórdia, com a graça de tua bênção.
        Não permitas que o reconforto do mundo me faça esquecer-te e constrange-me ao convívio da humildade para que o orgulho me não sufoque.
        Dá-me a luta edificante por mestra do meu resgate e não retires o teu olhar de sobre os meus passos, ainda que, para isso, deva ser o sofrimento constante a marca de meus dias.
        E, se possível, deixa que os irmãos desta casa me amparem com os seus pensamentos em orações de auxilio, para que, no pedregoso caminho da regeneração de que careço, não me canse de louvar-te o excelso amor para sempre!...
        Calou-se Druso, em pranto.








PREPARAÇÃO  DE  EXPERIÊNCIAS

André Luiz

Cap 12 (Missionários da Luz)

 – Preparação de experiências


Registra providências no Planejamento de Reencarnações e os mapas dos futuros corpos físicos; trata ainda do interessante e raríssimo caso dos "completistas" (encarnados que aproveitam todas as oportunidades de evolução).
A medicina do futuro, certamente levará em conta o psiquismo, identificando-o como responsável, senão por todas, mas pela maioria das patologias.

CENTRO DE PLANEJAMENTO DE REENCARNAÇÕES
André Luiz
(Do livro "Missionários da Luz", cap. 12, Francisco Cândido Xavier, edição FEB)




Como se processam as reencarnações?
Existem métodos, planejamentos, diretrizes e escolhas?
Podemos decidir qual corpo tomaremos na nova encarnação?
Todas as pessoas possuem esta liberdade?
 E os detalhes do corpo, como altura, peso, traços faciais, cor dos olhos, cabelos e pele e outras minúcias, são obra do acaso, herança genética ou fruto de elaborada engenharia celeste?
 Somos "assim ou assado" porque Deus quer ou quis ou haverá, no Além, por trás de cada ser renascido, um sofisticado instituto de planejamento de reencarnações?
Se a sua mente vive repleta de perguntas sobre o assunto, se a sua inteligência visualiza outra dinâmica para o incessante vaivém da vida, se você não suporta mais ouvir respostas do tipo "porque sim", "só Deus sabe" e "tá na Bíblia" para explicar tantas e tão angustiantes questões, aqui estão algumas explicações bem mais conclusivas... e coerentes! - Instituto André Luiz.



Do livro: Missionários da Luz
Série: Nosso Lar
Autor: André Luiz (Espírito)
Psicografia: Francisco Cândido Xavier


.

Do livro: Missionários da Luz
Série: Nosso Lar
Autor: André Luiz (Espírito)
Psicografia: Francisco Cândido Xavier

André Luiz
(Do livro "Missionários da Luz", cap. 12, Francisco Cândido Xavier, edição FEB)



A sós com Alexandre, mentor devotado e amigo, comecei a meditar na possibilidade de contribuir igualmente no caso que se me deparava. Nunca tivera oportunidade de acompanhar, de perto, um processo de reencarnação, estudando os ascendentes espirituais nas questões da embriologia. Não seria interessante, para mim, utilizar a experiência? Nesse propósito, dirigi-me ao instrutor, sem falar, porém, da minha pretensão em sentido direto:

- Notável para mim a solicitação de hoje -exclamei. - Longe estava de pensar, no mundo, na multiplicidade de tarefas atribuídas aos benfeitores e missionários desencarnados. A extensão do serviço em nosso campo de ação assombraria a qualquer mortal.

- Sem dúvida - respondeu o mentor, atencioso -, os trabalhos se desdobram em todas as direções. O pedido de Herculano vem focalizar um dos mais importantes problemas da felicidade humana: o da aproximação fraternal, do perdão recíproco, da semeadura do amor, através da lei reencarnacionista.

Alexandre meditou alguns momentos e continuou:

- O caso é típico. O drama de Segismundo é demasiadamente complexo para ser comentado em poucas palavras. Basta, todavia, recordar que ele, Adelino e Raquel são os protagonistas culminantes de dolorosa tragédia, ocorrida ao tempo de minha última peregrinação pela Crosta. Em seguida a uma paixão desvairada, Adelino foi vítima de homicídio; Segismundo, do crime; e Raquel, do prostíbulo. Desencarnaram, cada um por sua vez, sob intensa vibração de ódio e desesperação, padecendo vários anos, em zonas inferiores.

Mais tarde, por intercessão de amigos redimidos, os antigos cônjuges obtiveram a volta ao corpo físico, a fim de santificarem os laços sentimentais e se reaproximarem dos antigos adversários. Mas, como acontece quase sempre, os heróis na promessa fraquejam na realização, porque se apegam muito mais aos próprios desejos que à compreensão da Vontade Divina. De posse dos bens da vida física, nega-se Adelino a perdoar, recapitulando erradamente as lições do passado.

 Antes mesmo da reencarnação do antigo transviado, já se manifesta contrário a qualquer auxílio. Sempre o velho círculo vicioso - quando fora da oportunidade bendita de trabalho terrestre e vendo a extensão das próprias necessidades, desvela-se o companheiro em prometer fidelidade e realização, mas, logo que se apossa do tesouro do corpo físico, volta ao endurecimento espiritual e ao menosprezo das leis de Deus.

Calou-se o mentor, por alguns instantes, acentuando em seguida:

- Buscarei, porém, chamá-los à recordação dos compromissos.

Neste ínterim, entendendo que a oportunidade era preciosa, solicitei:

- Ser-me-ia possível acompanhá-lo? Creio que aproveitaria muito. Poderia talvez adquirir valores significativos para o serviço do próximo e para meu benefício pessoal.

 Ignoro até quando me será permitido estudar em sua companhia e estimarei o aproveitamento integral de semelhante oportunidade.

Alexandre sorriu, compassivo, e falou:

- Não tenho objeções. Entretanto, não creio deva seguir os trabalhos sem algum conhecimento prévio do assunto.

Em toda edificação verdadeiramente útil, não podemos prescindir da base. Temos bons amigos no Planejamento de Reencarnações, serviço muito importante em nossa colônia espiritual, diretamente relacionado com as atividades do Esclarecimento. Nessa instituição durante alguns dias, você terá uma idéia aproximada de nossa tarefa, portas adentro de semelhantes trabalhos.

 Grande percentagem de reencarnações na Crosta se processa em moldes padronizados para todos, no campo de manifestações puramente evolutivas.

 Mas outra percentagem não obedece ao mesmo programa. Elevando-se a alma em cultura e conhecimentos, e, conseqüentemente, em responsabilidade, o processo reencarnacionista individual é mais complexo, fugindo à expressão geral, como é lógico. Em vista disso, as colônias espirituais mais elevadas mantêm serviços especiais para a reencarnação de trabalhadores e missionários.

As explicações eram sedutoras e relevantes e, compreendendo a importância dos esclarecimentos para meu pobre espírito, Alexandre continuou:

- Quando me refiro a trabalhadores, falo dos companheiros não completamente bons e redimidos, mas daqueles que apresentam maior soma de qualidades superiores, a caminho da vitória plena sobre as condições e manifestações grosseiras da vida. Em geral, como acontece a nós outros, são entidades em débito, mas com valores de boa Vontade, perseverança e sinceridade, que lhes outorgam o direito de influir sobre os fatores de sua reencarnação, escapando, de certo modo, ao padrão geral. Claro que nem sempre tais alterações se verificam em condições agradáveis para a experiência futura. Os serviços de retificação representam tarefas enormes.

E desejando imprimir fortemente em meu espírito a noção da responsabilidade, o instrutor prosseguiu, tornando mais grave a inflexão da voz:

- O problema da queda é também uma questão de aprendizado e o mal indica posição de desequilíbrio, exigindo restauração e corrigenda. A evolução confere-nos poder, mas gastamos muito tempo, aprendendo a utilizar esse poder harmonicamente. A racionalidade oferece campo seguro aos nossos conhecimentos; entretanto, André, quase todos nós, trabalhadores da Terra, nos demoramos séculos no serviço de iluminação íntima, porque não basta adquirir idéias e possibilidades, é preciso ser responsável, e nem é justo tenhamos tão-somente a informação do raciocínio, mas também a luz do amor.



- Daí as lutas sucessivas em continuadas reencarnações da alma! - exclamei, vivamente impressionado.

- Sim - continuou meu amável interlocutor -, temos necessidade da luta que corrige, renova, restaura e aperfeiçoa. A reencarnação é o meio, a educação divina é o fim.

 Por isso mesmo, a par de milhões de semelhantes nossos que evolvem, existem milhões que se reeducam em determinados setores do sentimento, porquanto, se já possuem certos valores da vida, faltam-lhes outros não menos importantes.

Identificando-me a dificuldade para compreender-lhe o ensinamento de maneira integral, meu orientador voltou a dizer:

- Embora na condição de médico do mundo, acredito que você não tenha sido completamente estranho aos estudos evangélicos.

- Sim, sim - retruquei -, tenho as minhas recordações nesse sentido.

- Pois bem, o próprio Jesus nos deixou material de pensamento para o assunto em exame, quando nos asseverou que se a nossa mão ou os nossos olhos fossem motivos de escândalo deveriam ser cortados ao penetrarmos no templo da vida.

 Compete-nos transferir a imagem literal para a interpretação simples do espírito. Se já falimos muitas vezes em experiências da autoridade, da riqueza, da beleza física, da inteligência, não seria lógico receber idêntica oportunidade nos trabalhos retificadores.

Compreendera claramente onde Alexandre pretendia chegar com os seus esclarecimentos amigos. - É para a regulamentação de semelhantes serviços que funciona em nossa colônia espiritual, por exemplo, o Planejamento de Reencarnações; onde você terá ocasião de recolher ensinamentos preciosos.

E, atendendo-me às necessidades como pai afetuoso, apresentou-me o instrutor, no dia imediato, à imponente instituição.

Constituía-se o movimentado centro de serviço de vários prédios e numerosas instalações. Árvores acolhedoras enfileiravam-se através de extensos jardins, imprimindo encantador aspecto à paisagem. Reconheci logo que o instituto se caracterizava por grande movimento.

 Entidades insuladas ou em pequenos grupos iam e vinham, estampando atencioso interesse na expressão fisionômica. Pareciam sumamente despreocupadas de nossa presença ali, porque, quando não passavam sozinhas, ao nosso lado, engolfadas em profundos pensamentos, iam em grupos afetuosos, alimentando discretas conversações, multo graves e absorventes, ao que me parecia. Muitos desses irmãos, que passavam junto de nós, empunhavam reduzidos rolos de substância semelhante ao pergaminho terrestre, relativamente aos quais não possuía eu, até então, a mais leve notícia.

Alexandre, porém, como sempre, veio em socorro de minha estranheza, explicando, bondosamente:

- As entidades sob nossos olhos são trabalhadores de nossa esfera, interessados em reencarnações próximas.

Nem todos estão diretamente ligados ao semelhante propósito, porque grande parte está em trabalho de intercessão, obtendo favores dessa natureza para amigos íntimos. Os rolos brancos que conduzem são pequenos mapas de formas orgânicas, elaborados por orientadores de nosso plano, especializados em conhecimentos biológicos da existência terrena. Conforme o grau de adiantamento do futuro reencarnante e de acordo com o serviço que lhe é designado no corpo carnal, é necessário estabelecer planos adequados aos fins essenciais.


- E a lei da hereditariedade fisiológica? perguntei.

- Funciona com inalienável domínio sobre todos os seres em evolução, mas sofre, naturalmente, a influência de todos aqueles que alcançam qualidades superiores ao ambiente geral. Além do mais, quando o interessado em experiências novas no plano da Crosta é merecedor de serviços «intercessórios», as forças mais elevadas podem imprimir certas modificações à matéria, desde as atividades embriológicas, determinando alterações favoráveis ao trabalho de redenção.

A essa altura da palestra esclarecedora, Alexandre convidou-me a transpor o limiar.

Achamo-nos, em breve, num dos gabinetes extensos do edifício principal, aonde um dos numerosos amigos do orientador veio atender-nos atenciosamente.

Apresentou-me Alexandre ao Assistente Josino, que me recebeu com extrema gentileza e fidalguia de trato. Esclareceu o instrutor o objetivo de nossa visita.

 Desejava me fosse conferida a possibilidade de visitar a instituição de planejamento, quantas vezes me fosse possível durante a semana em curso, em vista da minha necessidade de adquirir noções seguras, referentemente ao trabalho de auxílio nas atividades reencarnacionistas. O Assistente prometeu a melhor boa vontade.

 Conduzir-me-ia a colegas dele, para que me não faltassem minúcias de conhecimento, exporia suas próprias experiências à minha observação, para que eu retirasse delas o máximo proveito e, por fim, quanto estivesse ao seu alcance, guiaria meus impulsos no aprendizado.

Felicitavam-me o íntimo as melhores e mais confortadoras impressões, não só pela recepção carinhosa, senão também pelo ambiente educativo.

Não longe de nós, em luminosos pedestais, descansavam duas maravilhas da estatuária, a figuração delicada de um corpo masculino e outro modelo feminino, singularmente belo pela perfeição anatômica, não somente da forma em si, mas também de todos os órgãos e as mais diversas glândulas. Através de disposições elétricas, ambas as figurações palpitavam de vida e calor, exibindo eflúvios luminosos, quais os homens e mulheres mais evolvidos na esfera carnal.




"Não longe de nós, em luminosos pedestais, descansavam duas maravilhas da estatuária, a figuração delicada de um corpo masculino e outro modelo feminino, singularmente belo pela perfeição anatômica, não somente da forma em si, mas também de todos os órgãos e as mais diversas glândulas. Através de disposições elétricas, ambas as figurações palpitavam de vida e calor, exibindo eflúvios luminosos, quais os homens e mulheres mais evolvidos na esfera carnal." - André Luiz

Identificando-me a admiração, Alexandre sorriu e disse ao Assistente Josino, com o propósito de fazer-se ouvido por mim:

- Talvez André não conheça bastante o nosso respeito e gratidão ao aparelho físico terrestre. - Em verdade - ajuntei - ignorava, até ago¬ra, que o corpo carnal fosse, entre nós, objeto de tamanhos cuidados. Não sabia que a nossa colônia contasse com instituição desse teor.

- Como não, meu amigo? - interferiu o Assistente, com inflexão de carinho - o corpo físico na Crosta Planetária representa uma bênção de Nosso Eterno Pai. Constitui primorosa obra da Sabedoria Divina, em cujo aperfeiçoamento incessante temos nós a felicidade de colaborar. Quanto devemos à máquina humana pelos seus milênios de serviço a favor de nossa elevação na vida eterna? Nunca relacionaremos a extensão de semelhante débito.

E, fixando os modelos que me provocavam assombro, acentuou:

- Todo o nosso zelo, no serviço de reencarnação, permanece muito aquém do quanto deveríamos realizar em benefício do aprimoramento da máquina orgânica.




Embora hesitante, ousei perguntar:

- Todos os núcleos de espiritualidade superior mantêm círculos de trabalho dessa natureza?

Foi Alexandre quem respondeu, com a delicadeza habitual:

- Em todas as colônias de expressão elevada, essas tarefas são desempenhadas com infinito carinho. O auxílio à reencarnação de companheiros nossos traduz o nosso reconhecimento ao aparelho físico que nos tem proporcionado tantos benefícios; através do tempo.


Recordei, porém, que o meu pai terrestre , um dia, voltara à experiência carnal, procedendo das zonas francamente inferiores, e indaguei:

- E aqueles que regressam à Crosta, partindo das regiões mais baixas, terão o mesmo generoso auxílio?

Desejando imprimir à pergunta a mais viva sinceridade, acrescentei:

- Meu genitor, na derradeira romagem terrestre, voltou, faz algum tempo, à esfera carnal em condições bem amargas...

Alexandre interrompeu-me o curso da frase, ponderando:

- Compreendemos. Se for ele criatura de razão esclarecida, embora não iluminada, permanecia após a morte em estado de queda e não deve ter voltado à bendita oportunidade da escola física sem o trabalho «intercessório» e forte ajuda de corações bem-amados de nosso plano.

Nesse caso, terá recebido a cooperação de benfeitores, situados em posições mais altas, que lhe terão endossado as promessas no serviço regenerador. Se ele foi, porém, criatura em esforço puramente evolutivo, circunstância essa na qual não teria regressado em condições amargurosas, contou ele naturalmente com o abençoado concurso dos trabalhadores espirituais que velam, na Crosta, pela execução dos trabalhos reencarnacionistas, em processos naturais.


Em face dos esclarecimentos do instrutor, entendi as diferenças e tranqüilizei o coração.


Fosse porque a palestra escalpelara melindroso assunto de família humana, fosse pelo propósito de me deixarem a sós com as minhas profundas reflexões naquele extenso gabinete de serviço, o orientador e o assistente entraram em silêncio, compelindo-me a rebuscar novos motivos de conversação para o meu aprendizado.

Passei então a observar detidamente os modelos masculino e feminino, não longe de meus olhos.

Muito gentil Josino pousou a destra, de leve, nos meus ombros, e falou-me:

- Aproxime-se das criações educativas. Você lucrará muito, observando de perto.

Não contive um gesto de agradecimento e afastei-me dos dois respeitáveis amigos, acercando-me das figurações ali expostas.

Detive-me na contemplação do molde masculino, que apresentava absoluta harmonia de linhas, qual arte helênica de sabor antigo.

O modelo, estruturado em substância luminosa, constituía, a meu parecer, a mais primorosa obra anatômica até então sob minha análise. Semelhava-se aquela figura humana, imóvel, a qualquer coisa divinal.

Fixei-lhe as minuciosidades com espanto.

Nunca vira semelhante perfeição de minudências fisiológicas. Toda a musculatura estava, ali, formada em fibras radiosas. Desde o frontal ao ligamento anular do tarso, viam-se fios de luz simbolizando as regiões diversas da musculatura em geral. Determinadas fibras, todavia, como as que se localizavam na zona orbicular das pálpebras, no triangular dos lábios, no grande peitoral, no pectineo, nas eminências tenar e hipotênar até o extensor dos dedos, eram mais brilhantes.

Do exame de superfície, passei a observações mais profundas, identificando as disposições maravilhosas das figuras representativas da circulação linfática e sanguínea. Oh! Os órgãos estavam todos ali, vibrando em obediência a dispositivos elétricos para demonstrações educativas. Os vasos para o sangue venoso apresentavam-se em luz acinzentada, ao passo que as regiões do sangue arterial figuravam-se em cor encarnada.


Surpreendido, rendi silencioso preito de admiração à Sabedoria Divina, que nos concede o sublime aparelho físico terrestre para as nossas aquisições eternas.

Impressionava-me a composição perfeita dos vasos distribuídos em torno do tronco celíaco, à maneira de pequenos rios de luz, destacando-se em expressão a luminosidade das cavas superior e inferior, das jugulares externa e interna, das artérias e veias axilares, da veia porta, das artérias esplênica e mesentérica superior, da aorta descendente, dos vasos ilíacos e dos gânglios da virilha.


Cobrindo as maravilhas orgânicas, estava o sistema nervoso, semelhando-se a capa radiante estruturada em fios tenuíssimos de luz feérica. A região do cérebro parecia uma lâmpada em azul suavíssimo, cuja luminosidade se ligava em senti¬do direto ao cerebelo, descendo em seguida pela medula espinhal até o plexo sagrado, onde o foco brilhante adquiria expressão mais intensa, para atenuar-se, depois, no grande ciático.




Transferi minhas observações para a forma feminina, igualmente radiosa, concentrando meu potencial analítico sobre o sistema endocrínico, disposto à maneira de constelação, entre as peças orgânicas. Desde a epífise, situada entre os hemisférios cerebrais, até os núcleos procriadores, as glândulas pareciam formar belo sistema luminoso, semelhante a pequenos astros de vida, congregados em sentido vertical, qual antena rútila atraindo a luz procedente de Mais Alto.

Cada qual apresentava sua forma específica, suas expressões vibratórias, suas características particulares, diversificando-se, igualmente, a cor de cada uma, embora recebessem todas, a seu modo, a coloração da epífise, semelhante a pequenino sol azulado, mantendo em seu campo de atração magnética todas as de¬mais, desde a hipófise à região dos ovários, como o nosso astro de vida, garantindo a coesão e o movimento da sua grande família de planetas e asteróides.


Minha estupefação não tinha limites.

É forçoso confessar, porém, que minha surpresa se distendia muito mais, ao fixar os eflúvios brilhantes que emanavam dos centros genitais, semelhando-se, em conjunto, a minúsculo santuário cheio de luz.
Como eu dirigisse ao meu instrutor um olhar de indagação, seus esclarecimentos não se fizeram esperar.


- Na Crosta - disse-me Alexandre, sorrindo, após reaproximar-se de mim -, em sentido geral ainda existe muita ignorância acerca da missão divina do sexo. Para nós, porém, que desejamos valorizar as experiências, a paternidade e a maternidade terrestres são sagradas.

A faculdade criadora é também divindade do homem. O útero maternal significa, para nós outros, a porta bendita para a redenção; para grande número de pessoas na Esfera do Globo, a visão celestial é símbolo de repouso e alegria sem fim, enquanto, para muitos de nós, a visão terrestre significa trabalho edificante e salutar.

 Não alcançaremos, porém, a terra prometida do serviço redentor, sem o concurso das forças criadoras associadas, do homem e da mulher.


Compreendi, com novo espírito, o caráter sublime das energias sexuais e recordei-me, compadecidamente, de todos os encarnados que ainda não conseguiram edificar o respeito e o entendimento, relativos aos sagrados órgãos procriadores. Meu orientador, entretanto, como antena receptora de todas as minhas emissões mentais, advertiu-me, bondoso:


- Relegue ao esquecimento qualquer expressão das reminiscências menos construtivas. Os que ultrajam o sexo, escrevendo, agindo ou falando, já são grandes infelizes por si mesmos.

Guardei a lição e abençoei a nova experiência que começava.

Despediu-se Alexandre, deixando-me na grande instituição de planejamento, onde o Assistente Josino, ocupado nos encargos de seu ministério, me confiou aos cuidados de Manassés, um irmão dos serviços informativos da casa, que me acolheu prazerosamente, cercando-me de gentileza e carinho.


Senti imediatamente que o meu aprendizado ali se iniciava com imenso proveito. Manassés era um livro volante. Seus pareceres e informes traduziam valiosos ensinamentos.

Aproximando-nos dos pavilhões de desenho, onde numerosos cooperadores traçavam planos para reencarnações incomuns, foi o meu novo companheiro procurado por uma entidade simpática que lhe pedia informações. Manassés apresentou-ma, otimista.

Tratava-se dum colega que, depois de quinze anos de trabalho nas atividades de auxílio, regressaria à esfera carnal para a liquidação de determinadas contas. O recém-chegado parecia hesitante. Via-se-lhe o receio, a indecisão.

- Não se deixe dominar pelas impressões negativas - dirigia-se Manassés a ele, infundindo-lhe bom ânimo. - O problema do renascimento não é assim tão intrincado. Naturalmente, exige coragem, boas disposições.

- Entretanto - exclamava o interlocutor, algo triste -, temo contrair novos débitos ao invés de pagar os velhos compromissos. É tão penoso vencer na experiência carnal, em vista do esqueci¬mento que sobrevém à encarnação...

- Mas seria muito mais difícil triunfar guardando a lembrança - redargüiu Manassés, incontinenti.

Prosseguindo, sorridente, acrescentou:

- Se tivéssemos grandes virtudes e belas realizações, não precisaríamos recapitular as lições já vividas na carne. E se apenas possuímos chagas e desvios para rememorar, abençoemos o olvido que o Senhor nos concede em caráter temporário. Esforçou-se o outro para esboçar um sorriso e objetou:

- Conheço-lhe o otimismo; quisera ser igual¬mente assim. Voltarei confiante no concurso fraterno de vocês.

E modificando o tom de voz, indagou:

- Pode informar se o meu modelo está pronto?

- Creio que poderá procurá-lo amanhã - tornou Manassés, bem disposto -; já fui observar o gráfico inicial e dou-lhe parabéns por haver aceitado a sugestão amorosa dos amigos bem orienta¬dos, sobre o defeito da perna.

 Certamente, lutará você com grandes dificuldades nos princípios da nova luta, mas a resolução lhe fará grande bem.

- Sim - disse o outro, algo confortado -, preciso defender-me contra certas tentações de minha natureza inferior e a perna doente me auxiliará, ministrando-me boas preocupações.

Ser-me-á um antídoto à vaidade, uma sentinela contra a ¬devastação do amor-próprio excessivo.

- Muito bem! - respondeu Manassés, franca¬mente otimista.

- E pode informar-me ainda a média de tempo conferida à minha forma física futura?

- Setenta anos, no mínimo - redargüiu meu novo companheiro, contente.

O outro fixou uma expressão de reconhecimento, enquanto Manassés continuava:

- Pondere a graça recebida, Silvério, e, de¬pois de tomar-lhe a posse no plano físico, não volte aqui antes dos setenta. Trate de aproveitar a oportunidade. Todos os seus amigos esperam que você volte, mais tarde, à nossa colônia, na gloriosa condição de um «completista».


O interpelado mostrou um raio de esperança nos olhos, agradeceu e despediu-se.

As últimas observações de Manassés acenderam-me curiosidade mais forte. Não contive a indagação que me vagueava no pensamento e perguntei sem rebuços:

- Meu amigo, que significa a palavra «completista»?

Ele sorriu, complacente, e retrucou, bem-humorado:

- É o título que designa os raros irmãos que aproveitaram todas as possibilidades construtivas que o corpo terrestre lhes oferecia.

 Em geral, quase todos nós, em regressando à esfera carnal, perdemos oportunidades muito importantes no desperdício das forças fisiológicas. Perambulamos por lá, fazendo alguma coisa de útil para nós e para outrem, mas, por vezes, desprezamos cinqüenta, sessenta, setenta per cento e, freqüentemente, até mais, de nossas possibilidades.


 Em muitas ocasiões, prevalece ainda, contra nós, a agravante de termos movimentado as energias sagradas da vida em atividades inferiores que degradam a inteligência e embrutecem o coração.

Aqueles, porém, que mobilizam a máquina física, à maneira do operário fidelíssimo, conquistam direitos muito expressivos em nossos planos.

 O «completista», na qualidade de trabalhador leal e produtivo, pode escolher, à vontade, o corpo futuro, quando lhe apraz o regresso à Crosta em missões de amor e iluminação, ou recebe veículo enobrecido para o prosseguimento de suas tarefas, a caminho de círculos mais elevados de trabalho.



Semelhante notícia representava para mim valiosa revelação. Nada mais legítimo que dotar o servidor fiel de recursos completos.

E lembrei-me dos desregramentos de toda a sorte a que se entregam as criaturas humanas, em todos os países, doutrinas e situações, complicando os caminhos evolutivos, criando laços escravizantes, enraizando-se no apego aos quadros transitórios da existência material, alimentando enganos e fantasias, destruindo o corpo e envenenando a alma. Num transporte de justificada admiração, redargúi:

- Recordando o cativeiro dos Espíritos encarnados no plano da sensação, consola-nos saber que há um prêmio aos raríssimos homens que vivem na sublime arte do equilíbrio espiritual, mesmo na carne.


- Sim - disse Manassés, aprovando-me com o olhar -, por mais estranho que possa parecer, semelhantes exceções existem no mundo.


Passam, freqüentemente, para cá, entre os anônimos da Crosta, sem fichas de propaganda terrestre, mas com imenso lastro de espiritualidade superior.



E dando-me a impressão de que desejava esclarecer-me, relativamente a ele mesmo, acrescentou:

- Há muitos anos me esforço para conseguir a condição dos «completistas»; no entanto, até agora continuo em fase de preparação...

Compreendi que Manassés, tanto quanto eu, trazia regular bagagem de recordações menos felizes, com respeito ao uso que fizera do corpo terreno nas experiências passadas e procurei modificar a orientação da palestra:

- Sabe de algum «completista» que tenha regressado à Crosta? – interroguei.

- Sim.

- Naturalmente - continuei, curioso - terá escolhido um organismo irrepreensível.

Meu novo companheiro mostrou significativa expressão fisionômica e acentuou:

- Nenhum dos que tenho visto partir, embora os méritos de que se encontravam revestidos, escolheram formas irrepreensíveis, quanto às linhas exteriores. Solicitaram providências em favor da existência sadia, preocupando-se com a resistência, equilíbrio, durabilidade e fortaleza do instrumento que os deveria servir, mas pediram medidas tendentes a lhes atenuarem o magnetismo pessoal, em caráter provisório, evitando-se-lhes apresentação física muito primorosa, ocultando, assim, a beleza de suas almas para a eficiente garantia de suas tarefas.

 Assim procedem, porquanto, vivendo a maioria das criaturas no jogo das aparências, quando na Crosta Planetária, incumbir-se-iam elas próprias de esmagar os missionários do Bem, se lhes conhecessem a verdadeira condição, através das vibrações destruidoras da inveja, do despeito, da antipatia gratuita e das disputas injustificáveis. Em vista disso, os trabalhadores conscientes, na maioria das vezes, organizam seus trabalhos em moldes exteriores menos graciosos, fugindo, por antecipação, ao influxo das paixões devastadoras das almas em desequilíbrio.




Entendi a extensão do esclarecimento e meditava na grandeza dos princípios espirituais que regem a experiência humana, quando Manassés acrescentou, após longa pausa:


- As mentes juvenis, quais crianças do mundo, brincam com o fogo das emoções; todavia, os espíritos amadurecidos, mormente quando chegam à situação de «completistas», abandonam toda experiência que os possa distrair no caminho de realização da Vontade Divina.


Em seguida, convidado pelo meu novo amigo, penetrei numa das dependências consagradas aos serviços de desenho.

Pequenas telas, demonstrando peças do organismo humano, estavam ordenadamente em todos os recantos. Tinha a impressão fiel de que me encontrava num grande centro de anatomistas, cercados de auxiliares competentes e operosos. Espalhavam-se desenhos de membros, tecidos, glândulas, fibras, órgãos de todos os feitios e para todos os gostos.


- Como sabe - observou Manassés, cuidadoso -, no serviço de recapitulação ou de tarefas especializadas na superfície do Globo, a reencarnação nunca pode ser vulgar. Para isso, trabalham aqui centenas de técnicos em questões de Embriologia e Biologia em geral, no sentido de orientar as experiências individuais do futuro de quantos irmãos se ligam a nós no esforço coletivo.


Sentindo espontânea veneração, contemplei os servidores que se inclinavam atenciosos, arquitetando o porvir de muitos companheiros.




Como era complexa a oportunidade de renascer! Que atividades intensas exigiam dos benfeitores espirituais! Ao meu gesto de estranheza, respondeu Manassés numa síntese expressiva:


- Você não ignora que os homens ainda selvagens ou semi-selvagens, embora utilizando os recursos sempre sagrados da Natureza, edificam suas habitações em moldes mais simples e rudimentares; todavia, o homem que já atingiu certo padrão de ideal, desenvolvendo faculdades superiores, Constrói o lar, organizando plantas prévias.


Indicando o quadro interior, extremamente movimentado, acrescentou, sorridente:

- Não estamos aqui senão cogitando, igualmente, de projetos para futuras habitações carnais. O corpo humano não deixa de ser a mais importante moradia para nós outros, quando compelidos à permanência na Crosta. Não podemos esquecer que o próprio Divino Mestre classificava-o como templo do Senhor,


Impressionado, seguia atenciosamente os trabalhos em curso. Dispúnhamo-nos a seguir adiante, quando uma irmã, de porte muito respeitável, se aproximou saudando Manassés afetuosamente. Ele respondeu com gentileza e apresentou-ma.

- É nossa irmã Anacleta.

Cumprimentei-a, sentindo-lhe a simpatia pessoal.

- Trata-se de uma das nossas trabalhadoras mais corajosas - acentuou o funcionário do trabalho de informações.

A senhora sorriu, algo contrafeita por se ver focalizada na opinião franca do companheiro.

Todavia, Manassés, com o otimismo que lhe era característico, prosseguiu:

- Imagine que voltará à Esfera do Globo, em breves dias, em tarefa de profunda abnegação por quatro entidades que, há mais de quarenta anos, se debatem em regiões abismais das zonas inferiores.



- Não vejo nisso abnegação alguma - atalhou à senhora, sorrindo -, cumprirei tão somente um dever.

E fixando-me, desassombrada e serena, asseverou:

- As mães que não completaram a obra de amor que o Pai lhes confia junto dos filhos amados, devem ser bastante fortes para recomeçarem os serviços imperfeitos. Esse o meu caso. Não se deve mencionar sacrifício onde existe apenas obrigação.


Interessava-me a história daquela irmã despretensiosa e simpática e, por isso mesmo, animei-me a perguntar-lhe:

- Regressará, então, dentro em breve? De qualquer maneira, sua resolução traduz devotamento e bondade. Não posso esquecer que também minha mãe voltou ao círculo da carne, tangida por sublime dedicação.

Notei que os olhos dela se encheram de lágrimas discretas, que não chegaram a cair, emocionada talvez com a minha observação sincera. Estendeu-me a destra, gentilmente, e, dando a idéia de que não desejava continuar em conversação relativa ao assunto, disse-me, comovida:

- Muito grata pelo conforto de suas palavras.

Mais tarde, ao se lembrar de mim, ajude-me com o seu pensamento amigo.

Nesse ponto da ligeira palestra, Manassés indagou:

- Já recebeu todos os projetos?

- Sim - respondeu ela -, não somente os que se referem aos meus pobres filhos, mas também a planta relativa à minha própria forma futura.

- Está satisfeita?

- Muitíssimo! - redargüiu a dama. - Na lei do Pai, a justiça está cheia de misericórdia e continuo na condição de grande devedora.

Em seguida, despediu-se, calma e afável.

Manassés compreendeu-me a curiosidade e explicou:

- Anacleta é um exemplo vivo de ternura e devotamento, mas voltará às lutas do corpo a fim de operar determinadas retificações no coração ma¬terno. Por imprevidência dela, noutro tempo, os quatro filhos, que o Senhor lhe confiara, caíram desastradamente. A pobrezinha albergava certas noções de carinho que não se compadecem com a realidade. Seu esposo era homem probo e trabalhador e, apesar de abastado, nunca se esqueceu dos deveres que lhe prendiam as atividades de homem de bem ao campo da sociedade em geral. Caracterizava-se por uma energia sempre construtiva, mas a esposa, embora devotadíssima, contrariava-lhe a influência do lar, viciando o afeto de mãe com excessos de meiguice desarrazoada. E, como conseqüência indireta, quatro almas não encontraram recursos para a jornada de redenção.

Três rapazes e uma jovem, cuja preparação intelectual exigira os mais árduos sacrifícios, caíram muito cedo em desregramentos de natureza física e moral, a pretexto de atenderem a obrigações sociais. E tão degradantes foram esses desregramentos que perderam muito cedo o templo do corpo, entrando em regiões baixas, em tristes condições. Anacleta, contudo, voltando ao campo espiritual, compreendeu o problema e dispôs-se a trabalhar afanosamente para conseguir, não só a reencarnação de si própria, senão também a dos filhos que deverão segui-la nas provas purificadoras da Crosta.
- Quantos anos gastaram para obter semelhante concessão? - perguntei, impressionado.
- Mais de trinta.
- Imagino-lhe os sacrifícios futuros! - exclamei.
- Sim - esclareceu Manassés -, a experiência ser-lhe-á bem dura, porque dois dos rapazes deverão regressar na condição de paralíticos, um na qualidade de débil mental e, para auxiliá-la na viuvez precoce, terá tão-somente a filha, que, por si mesma, será também portadora de prementes necessidades de retificação.



Ia dizer de minha profunda surpresa, diante do mecanismo de introdução ao serviço reencarnacionista, quando outra irmã se acercou de nós, procurando por Manassés.


Depois das saudações afetivas, explicou-se ela, gentil, dirigindo-se ao meu novo amigo:


- Desejo sua obsequiosa interferência na retificação do meu plano.

E abrindo pequeno mapa, onde se via desenhado com extrema perfeição um organismo de mulher, acentuou:


- Veja bem o meu projeto para o sistema endocrínico. Sei que os amigos me favoreceram, planejando-o com muita harmonia nas menores disposições; entretanto, desejaria modificações...

- Em que sentido? - indagou o interpelado, r surpreso.

A recém-chegada indicou os pontos do projeto onde se localizava o colo e falou:

- Fui advertida por benfeitores daqui, no sentido de não me apresentar na Crosta, dentro de linhas impecáveis para a forma física e, em razão disso, para que eu tenha mais probabilidades de êxito em meu favor, na tarefa que me proponho desempenhar, estimaria que a tireóide e as paratireóides não estivessem tão perfeitamente delineadas.

Como sabe, Manassés, minha tarefa não será fácil. Devo reaver um patrimônio espiritual de grandes proporções. Preciso fugir de qualquer possibilidade de queda e a perfeita harmonia física me perturbaria as atividades.

O novo companheiro endereçou-me expressivo olhar e disse-lhe:

- Tem razão. A sedução carnal é imenso perigo, não só para aqueles que emitem a sua influenciação, como também para quantos a recebem.

- Prefiro a fealdade corpórea - tornou ela.

Não estou interessada num corpo de Vênus e, sim, na redenção de meu espírito para a Eternidade.

Manassés prometeu interpor os seus bons ofícios, e, tão logo se despediu da nova interlocutora, passou a mostrar-me as mais interessantes figurações de órgãos do corpo humano.



Admirava, tomado de profunda impressão; aqueles gráficos numerosos que se alinhavam, com absoluta ordem, demonstrando o cuidado espiritual que precede o serviço de reencarnações, quando o meu amigo ponderou:

- A medicina humana será muito diferente no futuro, quando a Ciência puder compreender a extensão e complexidade dos fatores mentais no campo das moléstias do corpo físico.

 Muito raramente não se encontram as afecções diretamente relacionadas com o psiquismo. Todos os órgãos são subordinados à ascendência moral. As preocupações excessivas com os sintomas patológicos aumentam as enfermidades; as grandes emoções po0dem curar o corpo ou aniquilá-lo.

 Se isso pode acontecer na esfera de atividades vulgares das lutas físicas, imagine o campo enorme de observações que nos oferece o plano espiritual, para onde se transferem, todos os dias, milhares de almas desencarnadas, em lamentáveis condições de desequilíbrio da mente.

 O médico do porvir conhecerá semelhantes verdades e não circunscreverá sua ação profissional ao simples fornecimento de indicações técnicas, dirigindo-se, muito mais, nos trabalhos curativos, às providências espirituais, onde o amor cristão represente o maior papel.



Desejando, porém, prosseguir nos esclarecimentos, quanto ao serviço reencarnacionista, Manassés tomou pequeno gráfico e, apresentando-me as linhas gerais, acentuou:



- Aqui temos o projeto de futura reencarnação dum amigo meu. Não observa certos pontos escuros, desde o cólon descendente à alça sigmóide? Isso indica que ele sofrerá uma úlcera de importância, nessa região, logo que chegue à maioridade física. Trata-se, porém, de escolha dele.


E porque extrema curiosidade me vagueasse nos olhos, Manassés explicou:

- Esse amigo, faz mais de cem anos, cometeu revoltante crime, assassinando um pobre homem:

 a facadas; logo que se entregou ao homicídio, como acontece muitas vezes, a vítima desencarnada ligou-se fortemente a ele, e da semente do crime, que o infeliz assassino plantou num momento, colheu resultados terríveis por muitos anos. Como não ignora, o ódio recíproco opera igualmente vigorosa imantação e a entidade, fora da carne, passou a vingar-se dele, todos os dias, matando-o devagarzinho, através de ataques sistemáticos pelo pensamento mortífero. Em suma, quando o homicida desencarnou, por sua vez, trazia o organismo perispiritual em dolorosas condições, além do remorso natural que a situação lhe impusera.

Arrependeu-se do crime, sofreu muito nas regiões purgatoriais e, depois de largos padecimentos purificadores, aproximou-se da vítima, beneficiando-a em louváveis serviços de resgate e penitência.

Cresceu moralmente, tornou-se amigo de muitos benfeitores, conquistou a simpatia de vários agrupamentos de nosso plano e obteve preciosas intercessões.

Entretanto... A dívida permanece. O amor, contudo, transformou o caráter do trabalho de pagamento. O nosso amigo, ao voltar à Crosta, não precisará desencarnar em espetáculo sangrento, mas onde estiver, durante os tempos de cura completa, na carne que ele outrora menosprezou, carregará a própria ferida, conquistando, dia a dia, a necessária renovação.

Experimentará desgostos, em virtude do sofrimento físico pertinaz, lutará incessantemente, desde a eclosão da úlcera até o dia do resgate final no aparelho fisiológico; entretanto, se souber manter-se fiel aos compromissos novos, terá atingido, mais tarde, a plena libertação.



Enquanto fixava no projeto minha melhor atenção, Manassés continuava:


- Segundo observamos, a justiça se cumpre sempre, mas, logo que se disponha o Espírito a precisa transformação no Senhor, atenua-se o rigorismo do processo redentor. O próprio Pedro nos lembrou, há muitos séculos, que «o amor cobre a multidão dos pecados».


Examinei, impressionado, a planta educativa e. porque não encontrasse palavras bastante claras para pintar minha admiração, silenciei comovidamente.


Compreendendo-me o estado d’alma, o companheiro continuou:


- São inúmeros os projetos de corpos futuros em nossos setores de serviço. Depreende-se, da maioria deles, que todos os enfermos na carne são almas em trabalho da ingente conquista de si próprias. Ninguém trai a Vontade de Deus, nos processos evolutivos, sem graves tarefas de reparação, e todos os que tentam enganar a Natureza, quadro legítimo das leis divinas, acabam por enganar a si mesmos. A vida é uma sinfonia perfeita. Quando procuramos desafiná-la, no círculo das no¬tas que devemos emitir para a sua máxima glorificação, somos compelidos a estacionar em pesado serviço de recomposição da harmonia quebrada.


E, durante alguns dias, ali permaneci na instituição benemérita, compreendendo que a existência humana não é um ato acidental e que, no plano da ordem divina, a justiça exerce o seu ministério, todos os dias, obedecendo ao alto desígnio que manda ministrar os dons da vida «a cada um por suas obras».


INSTITUTO ANDRÉ LUIZ
©1999 - 2010
Todos os direitos reservados.
 




REENCARNAÇÃO

Cap 13 – Reencarnação – (seguramente o mais importante de todo o livro) - Após comentários sobre o perdão e o sexo, descreve a sublimidade que é a reencarnação de um Espírito, a partir da obra-prima que é a fecundação. É focalizada a interessantíssima questão das “fecundações físicas” e das “fecundações psíquicas”, aquela, nascendo das uniões físicas, no domínio das formas, e esta, das uniões espirituais, nos resplandecentes domínios da alma. Somos informados que o corpo perispiritual, que dá forma aos elementos celulares, está fortemente radicado no sangue(!).
NOTA: Raramente se encontrará na literatura espírita fonte igual de ensinamentos sobre a programação da existência terrena, que afinal de contas, não passa de uma etapa da bênção maior que é a vida !

(Do livro "Missionários da Luz", cap. 13, Francisco Cândido Xavier, edição FEB)

André Luiz

Senti-me ditoso e emocionado quando Alexandre me convidou a visitar, em companhia dele, o ambiente doméstico de Adelino e Raquel, onde se verificaria a reencarnação de Segismundo.


Profundo contentamento extravasava de meu espírito, porquanto era a primeira vez que iria tomar conhecimento direto com o fenômeno reencarnacionista.


Desde os primeiros tempos de estudo no campo da Medicina, fascinavam-me as leis biogenéticas. Entretanto, nunca me fora dado intensificar observações e especializar experiências. Na colônia espiritual a que me conduziram a Providência de Deus e a generosa intercessão dos amigos, muita vez recebera lições referentemente ao assunto; todavia, até então, nunca vira, de mais perto, o processo de imersão da entidade desencarnada no campo da matéria densa.


Em razão disso, acompanhei o prestimoso orientador com agradável e ansiosa expectativa.


Alexandre explicou-me, por excesso de gentileza, que, noutro tempo, recebera muitos favores das personagens envolvidas naquele caso de reencarnação e que se sentia feliz pela oportunidade de lhes ser útil. Comentou as dificuldades do serviço de libertação espiritual e exaltou a lei do bem, que chama todos os filhos da Criação ao concurso fraterno e aos serviços «intercessórios».


Depois de confortadora e instrutiva conversação, alcançamos o lar de Adelino, deliciosamente colocado em pitoresco canto suburbano, qual ninho gracioso, rodeado de tufos de vegetação.


Eram dezoito horas, aproximadamente.


Com surpresa, verifiquei que Herculano nos esperava no limiar. O instrutor, porém, informou-me que havia notificado o amigo sobre a nossa visita, recomendando-lhe trouxesse Segismundo para o trabalho de aproximação.


Cumprimentou-nos o companheiro, afetuosamente, e dirigiu-se ao meu orientador, esclarecendo:


- Segismundo veio em minha companhia e espera-nos, lá dentro.


- Foi excelente medida - falou Alexandre, bem-humorado -, consagrarei aos nossos amigos a minha noite próxima. Veremos o que é possível fazer.


Entramos.


O casal Adelino-Raquel tomava a refeição da tarde, junto de um pequenino, no qual adivinhei o primogênito da casa. Não longe, acomodado numa cadeira de descanso, repousava uma entidade que se levantou imediatamente, quando percebeu nossa presença, dirigindo-se particularmente ao encontro do meu orientador, que lhe abriu os braços carinhosos.


Herculano, perto de mim, explicou, em tom discreto:


- É Segismundo.


Notei que o desencarnado abraçara-se com Alexandre, chorando convulsivamente. O instrutor acolhia-o como pai, e, após ouvi-lo durante alguns minutos, falou-lhe compassivamente:


- Acalme-se, meu amigo! Quem não terá suas lutas, seus problemas, suas dores? E se todos somos devedores uns dos outros não será motivo de júbilo e glorificação receber as sublimes possibilidades de resgate e pagamento? Não chore! Nossos irmãos permanecem ao jantar. Não devemos perturbá-los, emitindo forças magnéticas de desalento.



E repondo-o na vasta cadeira de braços, como se Segismundo estivesse enfraquecido e enfermiço, continuou:


- Tenha coragem. O ensejo próximo é divino para o seu futuro espiritual. Organizaremos as coisas, não tenha receio.


- Entretanto, meu amigo - falou o interlocutor, em lágrimas -, experimento grandes obstáculos.


E acentuava em tom humilde:



- Reconheço que fui um grande criminoso, mas pretendo redimir as velhas culpas. Adelino, porém, apesar das promessas na esfera espiritual, esqueceu, na recapitulação presente, o perdão aos meus antigos erros...



Alexandre que ouvia, enternecido, sorriu paternalmente e redargüiu:



- Ora, Segismundo, porque envenenar o coração? Porque não desculpa você, por sua vez? Não complique a própria situação, abrigando in¬justificável desânimo. Levante as energias, meu amigo! Coloque-se na situação do ex-adversário, vítima noutro tempo de seu ato impensado! Não encontraria, talvez, as mesmas dificuldades? Tenha calma e prudência, não perca a bendita ocasião de tolerar alguma coisa desagradável ao seu sentimento, a fim de reparar o passado e atender às necessidades do presente. Vamos, equilibre-se! O momento é de gratidão a Deus e de harmonia com os semelhantes!...



Segismundo enxugou os olhos, sorriu com esforço e murmurou:
- Tem razão.


Herculano, que o contemplava, compadecido, entrou na palestra, acrescentando:
- Ele tem estado muito abatido, desanimado...


- É natural - tornou Alexandre, decidido -, porque, em tais circunstâncias, sofre a criatura certos desequilíbrios, em face das necessidades do regresso à carne, mas Segismundo tem levado muito longe o fenômeno, acentuando os próprios sofri¬mentos, com expectativas e inquietações injustificáveis.


Fixando, mais detidamente, a atenção no casal que se mantinha à mesa, falou, afetuoso:
- Observemos Adelino e Raquel. Vejamos a cooperação que podem receber.
Acompanhamo-lo, em silêncio.


O chefe da casa permanecia taciturno, conversando com a esposa tão somente por monossílabos. Via-se que a companheira se esforçava; no entanto, ele continuava quase sombrio.


- Não se efetuou o negócio que você esperava? - interrogou à senhora, tentando a palestra afetiva.


- Não - respondeu ele secamente.


- Mas você continua interessado?


- Sim.


- E viajará na semana próxima, caso não se realize o empreendimento até domingo?
- Talvez.


A esposa fez longa pausa, algo desapontada, argüindo em seguida:

- Que desculpa apresenta a Companhia, em vista de semelhante demora?


O marido fitou-a com frieza e respondeu, lacônico:


- Nenhuma.

A essa altura, Alexandre fez significativo gesto com a cabeça e falou-nos, preocupado:



- Em verdade, a condição espiritual de Adelino é das piores, porque o sublime amor do altar doméstico anda muito longe, quando os cônjuges perdem o gosto de conversar entre si. Em semelhante estado psíquico, não poderá ser útil, de modo algum, aos nossos propósitos.


Alexandre levantou-se, deu alguns passos em torno da reduzida família e dirigiu-se a nós outros, afirmando:


- Procurarei despertar-lhe as fibras sensíveis do coração, de modo a prepará-lo, convenientemente, a fim de ouvir-nos nesta noite.


Assim dizendo, o devotado orientador aproximou-se da criança, belo menino de três anos aproximadamente, e colocou-lhe a destra sobre o coração. vi que o pequeno sorriu, mostrando novo brilho nos olhos azuis e falou, com inflexão de infinito carinho:


- Mamãe, porque papai está triste?


O dono da casa ergueu o rosto, com admiração, ao passo que a senhora respondia, comovida: - Não sei, Joãozinho. Ele deve estar preocupado com os negócios, meu filho.


- E que são «negócios», mamãe? - tornou a criança ingênua.


- São as lutas da vida.



O menino fitou a mãezinha, com atenção, e perguntou:


- Papai fica alegre nos negócios?
- Fica, sim - respondeu à senhora, sorrindo.


- E porque fica triste em casa?



Enquanto o pai seguia o diálogo, sob forte impressão, a genitora carinhosa esclareceu a criança, com paciência:


- Nas lutas de cada dia, Joãozinho, teu pai deve estar contente com todos e não deve ofender a ninguém. Entretanto, o que te parece tristeza é o cansaço do trabalho. Quando ele volta ao lar traz consigo muitas preocupações. Se na rua deve teu pai mostrar cordialidade e alegria a todos, de modo a não ferir os demais, não acontece o mesmo aqui, onde se encontra à vontade para refletir nos problemas que o interessam de perto. Aqui, é o lar, meu filho, onde está com o direito de não esconder as preocupações mais íntimas...


A criança escutou, atenta, dividindo os olhares afetuosos entre pai e mãe, e tornou:



- Que pena, hein, mamãe?


O chefe da pequena família, tocado nas fibras recônditas da alma pela ternura do filhinho e pela humildade sincera da companheira, sentiu que a nuvem de sombra dos seus próprios pensamentos dava lugar a repousantes sensações de alivio confortador. Sorriu, repentinamente transformado, e dirigiu-se ao pequeno, com nova inflexão de voz:


- Que idéia é essa, Joãozinho? Não me sinto entristecido. Estou, aliás, satisfeitíssimo, como no último dia de nosso passeio a serra! Tua mãe explicou muito bem o que se passa. Quando teu pai estiver silencioso não quer dizer que se encontra desalentado. Por vezes, é preciso calar para pensar melhor.



A dona da casa mostrou largo sorriso de satisfação, observando a mudança brusca do companheiro. O menino, por sua vez, não disfarçava o júbilo no semblante infantil, e assim que o pai terminou as explicações afetuosas, sempre envolvido nas irradiações magnéticas do bondoso instrutor, dirigiu-se novamente ao chefe da casa, perguntando:


- Papai, porque você não vem rezar, de noite, comigo?



O genitor trocou expressivo olhar com a esposa e falou ao pequenino:



- Tenho tido sempre muito serviço à noite, mas voltarei hoje mais cedo para acompanhar tuas preces.
E sorrindo, com paternal alegria, acrescentou:


- Já sabes orar sozinho?
O pequeno redargüiu, satisfeito:


- Mamãe ensina-me todas as noites a rezar por você. Quer ver?



E, abandonando o talher, instintivamente olhou para o alto, de mãos postas, e recitou:



- «Meu Deus, guarda o papai nos caminhos da vida, dá-lhe saúde, tranqüilidade e coragem nas lutas de cada dia! Assim seja!»



O genitor, que se apresentara tão impenetrável e rude a principio, mostrou os olhos rasos d’água sensibilizados nas fibras mais intimas, e fixando ternamente o filho, murmurou:
- Estás muito adiantado. Hoje, Joãozinho, rezarei também.
De alma desanuviada agora, Adelino contemplou a companheira, orgulhoso de possuir-lhe o devotamento, e acentuou:


- A palestra do João fez-me enorme bem. Trazia o coração desalentado, opresso. Eu mesmo não saberia definir meu estado d’alma... Há muitos dias, minhas noites são agitadas, cheias de aflições e pesadelos! Tenho sonhado sistematicamente que alguém se aproxima de mim, na qualidade de vigoroso inimigo. Por vezes, rendo graças a Deus, ao despertar pela manhã, porque me sinto mais à vontade, enfrentando as máscaras humanas, que lutando, noite inteira, em sonhos cruéis...



A esposa, admirada, observou, carinhosa:
- Creio que deverias descansar um pouco... Comovido, ante a delicadeza da mulher, Adelino continuou:




- Tenho tido receio de mim mesmo! Tão logo me acomodo no leito, sinto instintivamente que uma sombra se aproxima de mim. Adormeço sob incrível ansiedade e o pesadelo começa, sem que eu saiba explicar conscientemente coisa alguma.


- E os sonhos são sempre os mesmos? - indagou a esposa, solicita.



- Sempre - respondeu ele, com emoção vejo que um homem se aproxima de mim, estendendo as mãos, à maneira dum mendigo vulgar a implorar socorro, mas, ao lhe fixar a fisionomia, inexplicável terror invade-me o espírito... Tenho a impressão de que ele deseja assassinar-me pelas costas... Em certas ocasiões, tento estender-lhe as mãos, vencendo a impressão de pavor; entretanto, fujo sempre, num misto de ódio e repugnância oh! Que pesadelos terríveis e longos!



E, modificando o tom de voz, acrescentou:


- Admito esteja eu sob fortes desequilíbrios nervosos, sem atinar com o motivo...
- Porque não se submeter ao necessário tratamento médico? - perguntou a esposa afetuosa.



O marido pensou alguns momentos, como se o seu espírito vagueasse através de longínquas recordações. Em seguida, fixando na companheira os olhos muito brilhantes, acentuou:



- Talvez não precise recorrer a facultativos. É possível que o nosso filhinho esteja com a razão... As lutas grosseiras do mundo impuseram-me o esquecimento da fé em Deus. Há quantos anos terei abandonado a oração?



De olhos molhados e pensativos, prosseguiu:


- Quando menino, minha mãe me educava na ciência da prece. Ensinado a curvar-me diante da vontade do Altíssimo, sentia a Bondade Divina em todas as coisas e ajoelhava-me confiante ao pé de minha carinhosa genitora, implorando as bênçãos do Alto... Depois, vieram as emoções dos sentidos, o duelo com os maus, a experiência difícil na concorrência ao pão de cada dia... Desde então perdi a crença pura, que sinto necessidade de retomar...



A esposa enxugou os olhos, comovida. Há muitos anos não observava no companheiro semelhantes demonstrações emotivas. Ergueu-se, emocionada, e falou com ternura:
- Volte hoje mais cedo para orarmos juntos.



E procurando imprimir notas de alegria à conversação, chamou o filhinho a pronunciar-se, acrescentando:
- Hoje, Joãozinho, papai rezará conosco.



Iluminou-se o semblante do pequenino de intraduzível alacridade. Contemplou a mãezinha, enternecido, e observou:



- Então, mamãe, farei todas as orações que eu já sei.



Após o jantar, experimentando disposições diferentes, Adelino despediu-se com delicadeza que Herculano classificou de inabitual.
Alexandre, muito satisfeito, asseverou, depois de restituir a criança aos cuidados maternos:



- Felizmente, nossos serviços preparatórios desdobram-se com excelentes promessas. Conseguimos bastante em reduzidos minutos.
De minha parte, imensa era a surpresa que me invadia o espírito. Porque tamanhos cuidados? Alexandre e outros benfeitores espirituais, tão elevados quanto ele mesmo, não poderiam organizar todos os serviços atinentes à reencarnação de Segismundo? Não eram senhores de grande poder sobre todos os obstáculos?
Mas, dando-me a idéia de que desejava responder às minhas interrogações íntimas, o instrutor afavelmente falou a Herculano, nestes termos:




- Não devemos e nem podemos forçar a ninguém e precisamos das boas disposições de Adelino para o trabalho a fazer.
Em seguida, passou a orientar Segismundo, relativamente à conduta mental, aconselhando-o a preparar-se com todos os recursos ao seu alcance para o, êxito na experiência próxima. Outros amigos espirituais das personagens daquele drama entre duas esferas também chegaram ao ninho doméstico, acentuando-se a alegria da camaradagem fraternal.
A presença do meu instrutor parecia incentivo a contentamento geral. Alexandre sabia conduzir a palestra elevada e comunicava seu valioso otimismo a todos os companheiros. Comentava-se a dificuldade da reencarnação em vista dos conflitos vibratórios causadas pela incompreensão das criaturas terrestres, quando o chefe da casa voltou ao lar, interessado em cultivar as doces emoções daquele dia.



Agradavelmente surpreendidos, a esposa e o filhinho fizeram-lhe muita festa, encetando nova conversação confortadora e educativa.
Fez-se mais de uma hora de boa leitura e excelente troca de idéias, renovando Adelino os seus propósitos de reaver a serenidade íntima, através de maior comunhão espiritual com a pequena família.
Quando a mãezinha dedicada lembrou ao pequeno a necessidade de recolher-se, Joãozinho recordou a promessa paternal e indagou:


- Papai sabe o que devemos fazer antes da oração?



O chefe da casa sorriu e pediu-lhe explicações.
O menino, com assombrosa vivacidade, esclareceu:



- Diz mamãe que devemos chamar os mensageiros de Deus para que nos assistam.


- Pois bem - tornou o genitor, bem-humorado -, chame por eles em nosso favor.
O pequeno pronunciou algumas palavras de convite, de mãos postas, e, em seguida, encaminharam-se os três, para o aposento íntimo.
Alexandre, que parecia muito satisfeito com a lembrança espontânea do pequenino, disse-nos então:



- Estamos convidados a participar das suas mais íntimas orações. Acompanhemo-los.
Naquele momento, nosso grupo estava acrescido de três entidades amigas de Raquel, que tinham vindo, até ali, igualmente convocadas pela dedicação de Herculano, a fim de cooperarem na solução do assunto.



O quadro interior era dos mais comoventes. O pequenino pusera-se de joelhos e fazia a oração dominical, com infantil emotividade. Adelino e a companheira seguiam-lhe a prece com grande atenção. Por nossa vez, continuamos, agora em silêncio, a observar e colaborar naquele serviço espiritual com as melhores forças do sentimento.


Notei que a esposa se achava rodeada de intensa luminosidade, que, partindo de seu coração, envolvia o esposo e o pequenino em suaves irradiações. Muito sensibilizado, Adelino deixou escapar uma lágrima furtiva, quando o filho, terminando as preces, curtas em palavras e grandiosas em espiritualidade, lhe beijou carinhosamente as mãos.




Mais alguns minutos e todos se recolhiam sob os cobertores, felizes e tranqüilos.
Nesse instante, Alexandre falou:


- Agora, meus amigos, façamos o nosso serviço de oração cooperadora. Precisamos conversar seriamente com Adelino, relativamente à situação. O orientador pediu a proteção divina para o casal, em voz alta, sendo acompanhado por nós, em profundo silêncio.



As vibrações do nosso pensamento em rogativa congregaram-se, como parcelas de luminosas substâncias a se reunirem num todo, derramando-se sobre o leito conjugal, quais correntes sutis de forças magnéticas revigorantes e regeneradoras.



Foi então que vi Raquel abandonar o corpo físico, dentro de luminosas irradiações, parecendo-me alheia à situação.



Despreocupada, feliz, abraçou-se com uma das entidades que nos acompanhavam, velha senhora que Alexandre nos apresentara pouco antes, declarando tratar-se da avó materna da dona da casa. A anciã desencarnada convidou a neta a permanecerem juntas em oração, ao que Raquel aquiesceu com visível contentamento.


A esposa de Adelino, entretanto, parecia identificar tão-somente a presença da velhinha amorosa. Fixava em nós o olhar, indiferentemente, como se ali não estivéssemos. Estranhando o fato, dirigi-me ao instrutor, pedindo-lhe explicações. Alexandre não se fez rogado e, não obstante a delicadeza do serviço em curso, esclareceu-me delicadamente:


- Não se surpreenda. Cada um de nós deve ter a possibilidade de ver somente aquilo que nos proporcione proveito legítimo. Além do mais, não seria justo intensificar a percepção de nossa amiga para que nos acompanhe no trabalho desta noite. Ela nos auxiliará com o valor da oração, mas não precisará seguir, de perto, os esclarecimentos que a condição do esposo requisita. Quem faz o que pode, recebe o salário da paz. Raquel vem fazendo quanto lhe é possível para o êxito no desempenho das obrigações que a trouxeram ao mundo; por isso mesmo, não deve ser advertida e nem perturbada. Atendamos Segismundo e Adelino.


Satisfeito com as elucidações recebidas e admirando a Justiça Divina a manifestar-se nos mínimos pormenores de nossas atividades espirituais, observei que a companheira de Adelino se mantinha, não longe de nós, em fervorosa prece.




Nesse momento, o esposo de Raquel afastava-se do corpo físico, pesadamente. Não apresentava, tal qual a consorte, um halo radioso em derredor da personalidade, parecendo mover-se com extrema dificuldade. Enquanto seu olhar vagueava no quarto, angustiado e espantadiço, Alexandre se aproximou de mim e observou:


- Está examinando a lição? Repare as singularidades da vida espiritual. Adelino e Raquel são Espíritos associados de muitas existências em comum, partilham o mesmo cálice de dores e alegrias terrestres. Na atualidade, seus corpos repousam um ao lado do outro, no mesmo leito; entretanto, cada um vive em plano mental diferente. É muito difícil estarem reunidas nos laços domésticos as almas da mesma esfera. Raquel, fora dos veículos de carne, pode ver a avozinha, com quem se encontra ligada no mesmo círculo de elevação. Adelino, porém, somente poderá ver Segismundo, com quem se encontra imantado pelas forças do ódio que ele deixou, imprudentemente, desenvolver-se, de novo, em seu coração...




A palavra do orientador, contudo, foi interrompida por um grito lancinante. Adelino, receoso, identificara a presença do antigo adversário e, espavorido, tentava correr, inutilmente. Movimentava-se, com dificuldade, ansioso de retomar o corpo físico, à maneira de criança medrosa procurando um refúgio, mas Alexandre, aproximando-se dele, com amorosa autoridade, estendeu-lhe as mãos, das quais saíam grandes chispas de luz.




 Contido pelos raios magnéticos, o esposo de Raquel pôs-se a tremer, sentindo-se que ele começava a ver alguma coisa além da figura do ex-inimigo. Aos poucos, em vista das vigorosas emissões magnéticas de Alexandre, ele pôde ver nosso venerável orientador, com quem passou a sintonizar diretamente e caiu de joelhos, em convulsivo pranto. Observei o pensamento de Adelino naquela hora comovedora e percebi que ele associava a visão radiosa às preces do filhinho. Ele via, ali, a estranha figura de Segismundo e a resplandecente presença de Alexandre e fazia intraduzível esforço para recordar-se de alguma coisa do passado distante que a sua memória não conseguia situar com exatidão. Supôs, naturalmente, que o nosso mentor devia ser um emissário do Céu para salvá-lo dos pesadelos cruéis e, ofuscado pela intensa luz, soluçava, genuflexo, entre o medo e o júbilo, suplicando paz e proteção.




O bondoso instrutor dirigiu-se para ele, com a serenidade de um pai carinhoso e experiente, e levantando-o, exclamou:



- Adelino, guarda a paz que te trazemos em nome do Senhor!


E, abraçando-o de encontro ao peito amigo, continuou:


- Que temes, meu irmão?



Ergueu ele os olhos lacrimosos e indicando Segismundo, triste, alegou sentidamente:
- Mensageiro de Deus, livrai-me deste pesadelo infeliz! Se viestes, trazido pelas orações de meu filho inocente, ajudai-me por caridade!


E apontando o pobre amigo, continuava:


- Este fantasma enlouquece-me! Sinto-me doente, desventurado!...


Alexandre, porém, fixando-o firmemente, indagou:


- É assim que recebes os irmãos mais infelizes? É assim que te portas, ante os desígnios supremos? Onde puseste as noções de solidariedade humana? Porque fugir aos mais infortunados da sorte? É sempre muito fácil amar os amigos, admirar os bons, compreender os inteligentes, defender os familiares, entronizar as afeições, conservar os que nos estimam, louvar os justos e exaltar os heróis conhecidos; mas, se somos respeitáveis em semelhantes posições intimas, é preciso reconhecer que elas traduzem serviço realizado em nosso processo evolutivo.



Nós, porém, meu amigo, ainda não alcançamos a redenção final.


 Por isso mesmo, a tempestade é nossa benfeitora; a dificuldade, nossa mestra; o adversário, instrutor eficiente. Modifica as vibrações de teus pensamentos!


Recebe com caridade o mendigo que te bate à porta, quando não tenhas adquirido ainda bastante luz para recebê-lo com o amor que Jesus nos ensinou!




Impressionado com as palavras ouvidas, pronunciadas com inflexão de ternura paternal, Adelino, em lágrimas copiosas, voltou-se para Segismundo, encarando-o de frente. Alexandre, como se lhe aproveitasse a nova atitude, acentuou:



- Contempla o pobrezinho que te pede socorro! Observa-lhe o estado de humilhação e necessidade. Imagina-te na posição dele e reflete! Não te doeria a indiferença dos outros? Não te dilaceraria a alma a crueldade alheia? Estimarias que alguém te classificasse de fantasma, tão-só pelas tuas demonstrações de sofrimento?



Adelino, meu amigo, abre as portas do coração aos que te procuram em nome do Poderoso Pai.




O interpelado voltou-se, qual criança medrosa, e, fixando o mentor generoso, falou:



- Oh! Mensageiro dos Céus, tenho medo, muito medo!... Algo existe entre este homem de sombra e eu, compelindo-me a profunda aversão!
Creio que ele deseja roubar-me a vida, aniquilar a minha felicidade doméstica, envenenar-me o coração para sempre!...




Compreendi que a aproximação de Segismundo despertava em Adelino reencarnado as reminiscências do passado sombrio. Ele, a vítima de outro tempo, não conseguia localizar os fatos vividos, mas experimentava, no plano emotivo, as recordações imprecisas dos acontecimentos, cheias de ansiedades dolorosas.



Findo ligeiro intervalo, Alexandre objetou:



- Não deves permitir a intromissão de forças negativas e destruidoras no campo íntimo da alma. É sempre possível transformar o mal em bem, quando há firme disposição da criatura no serviço de fidelidade ao Senhor.


Considera, meu amigo, as grandes verdades da vida eterna! Ainda que este irmão te procurasse na condição dum adversário, ainda que ele te buscasse como inimigo feroz, deverias abrir-lhe o espírito fraternal! Toda reconciliação é difícil quando somos ignorantes na prática do amor, mas sem a reconciliação humana jamais seria possível nossa integração gloriosa com a Divindade!



E porque o esposo de Raquel chorasse copiosamente, o orientador observou:
- Não chores! Equilibra o coração e aproveita a sagrada oportunidade!...



Adelino, então, enxugou as lágrimas e pediu, humilde:
- Auxiliai-me por amor de Deus!


Sentindo-lhe a sinceridade profunda, o instrutor convidou Segismundo a aproximar-se. Ele levantou-se, cambaleante, angustiado.





Amparando a ex-vítima, Alexandre indicou-lhe a figura do ex-assassino e apresentou:
- Este é o nosso amigo Segismundo que necessita de tua cooperação no serviço redentor. Estende-lhe as mãos fraternas e atende em nome de Jesus!
Adelino não hesitou e, embora o grande esforço intimo, visível à nossa percepção espiritual, apertou a destra do ex-adversário, fundamente comovido.



- Perdoe-me, irmão! - murmurou Segismundo, com infinita humildade. - O Senhor recompensá-lo-á pelo bem que me faz!...


O marido de Raquel fixou-o nos olhos, como a dissipar as derradeiras sombras do desentendimento, e redargüiu:



- Disponha de mim... Serei seu amigo!...




O ex-homicida inclinou-se, respeitoso, e beijou-lhe a mão. O ato espontâneo de Segismundo conquistara-o. Não podia ser mau aquele Espírito angustiado e triste que lhe osculava as mãos com veneração e carinho. Foi então que vi um fenômeno singular. O organismo perispiritual de Adelino parecia desfazer-se de pesadas nuvens, que se rompiam de alto a baixo, revelando-lhe as características luminosas. Irradiações suavíssimas aureolavam-lhe agora a personalidade, deixando perceber a sua condição elevada e nobre.


Herculano, junto de mim, falou-me em tom discreto:



- O perdão de Adelino foi sincero. As sombras espessas do ódio foram efetivamente dissipadas. Louvado seja Deus!


Alexandre abraçou as duas almas reconciliadas e renovou-lhes fraternal observação, repassada de sabedoria e ternura. Em seguida, recomendou ao esposo de Raquel que descansasse da luta, dispondo-se a sair em nossa companhia.


Notei que marido e mulher, impulsionados pelos amigos espirituais ali presentes, voltavam ao corpo físico, a fim de permutarem impressões, referentemente aos fatos que classificariam de sonhos, dentro da coloração mental de cada um.


Ao se retirar, Alexandre, satisfeito, comentou paternalmente:



- Com o auxílio de Jesus, a tarefa foi executada com êxito.


E, fixando Segismundo, acrescentou:
- Creio que na próxima semana poderá iniciar o seu serviço definitivo de reencarnação. Acompanhá-lo-emos com carinho. Não receie coisa alguma.



Enquanto Segismundo sorria, resignado e confiante, o orienta dor dirigiu-se a Herculano, explicando-se:



- Já observei o gráfico referente ao organismo físico que o nosso amigo receberá de futuro, verificando, de perto, as imagens da moléstia do coração que ele sofrerá na idade madura, como conseqüência da falta cometida no passado.


Segismundo experimentará grandes perturbações dos nervos cardíacos, mormente os nervos do tônus.



Entretanto - e nesse momento concentrou toda a sua atenção no interessado -, é necessário que você lhe faça ver que as provas de resgate legítimo inclinam a alma encarnada a situações periclitantes e difíceis na recapitulação das experiências; todavia, não obrigam a novas quedas espirituais, quando dispomos de verdadeira boa vontade no trabalho de elevação.



O aprendiz aplicado pode ganhar muito tempo e conquistar imensos valores se, de fato, procura conhecer as lições e pô-las em prática.


A justiça divina nunca foi exercida sem amor. E quando a fidelidade sincera ao Senhor permanece viva no coração dos homens, há sempre lugar para o «acréscimo de misericórdia» a que se referia Jesus em seu apostolado.
Em seguida, convidando-me a acompanhá-lo, Alexandre despediu-se dos demais, frisando:
- Voltaremos a vê-los no dia da ligação inicial de Segismundo com a matéria física. Preciso cooperar, na ocasião, com os nossos amigos Construtores, aos quais pedi me apresentassem os mapas cromossômicos, referentemente aos serviços a serem encetados.


Separamo-nos.


E eu, torturado de curiosidade estranha, em vista daqueles cuidados extremos para que Adelino e Segismundo se reconciliassem, antes da reaproximação pelos laços da carne, não sopitei as interrogações que me atormentavam o espírito.



Não seria licito providenciar a reencarnação do necessitado, sem quaisquer delongas? Porque tamanha demonstração de carinho para com o esposo de Raquel se ele deveria sentir-se satisfeito em poder cooperar na obra sublime de redenção? Não dispúnhamos de suficiente poder para quebrar todas as resistências?


Alexandre ouviu-me, pacientemente, mostrou um sorriso de pai e respondeu:


- Sua estranheza é natural. Não se habituou ainda aos trabalhos de socorro ou de organização neste lado da vida.



E, depois de pequena pausa, considerou:



- Cada homem, como cada Espírito, é um mundo por si mesmo e cada mente é como um céu... Do firmamento descem raios de sol e chuvas benéficas para a organização planetária, mas também, no instante do atrito de elementos atmosféricos, desse mesmo céu procedem as faíscas destruidoras.



Assim, a mente humana. Dela se originam as forças equilibrantes e restauradoras para os trilhões de células do organismo físico; mas, quando perturbada, emite raios magnéticos de alto poder destrutivo para as comunidades celulares que a servem.


O pensamento envenenado de Adelino destruía a substância da hereditariedade, intoxicando a cromatina dentro da própria bolsa seminal. Ele poderia atender aos apelos da Natureza, entregando-se à união sexual, mas não atingiria os objetivos sagrados da Criação, porque, pelas disposições lamentáveis de sua vida íntima, estava aniquilando as células criadoras, ao nascerem, e, quando não as aniquilasse por completo, intoxicava os genes do caráter, dificultando-nos a ação...



 Ora, no caso de Segismundo, unido a ele, em processo ativo de redenção, não podemos dispensar-Lhe o concurso amoroso e fraterno. Daí a necessidade desse trabalho intenso para despertar-lhe os valores afetivos. Somente o amor proporciona vida, alegria e equilíbrio. Modificado em sua posição íntima, Adelino emitirá doravante forças magnéticas protetoras dos elementos destinados ao serviço elevado da procriação.



A palavra do orienta dor não podia ser mais lógica. Começava agora a compreender o sentido sublime do trabalho que se realizara para que o esposo de Raquel se fizesse mais humano e mais doce.


Como não encontrasse expressões para definir meu assombro, Alexandre sorriu e acentuou, depois de longo intervalo:


- Segundo pode observar, não existem por aqui milagres para o culto do menor esforço. E quando ensinamos, em toda parte, a necessidade da prática do amor, não procedemos obedientes a meros princípios de essência religiosa, mas atendendo a imperativos reais da própria vida.


No curso de seus esclarecimentos, alusivos ao interessante caso de Segismundo, o bondoso instrutor ferira assuntos de grande relevância para mim.



Mencionara a união sexual e designara o trabalho criador como seu objetivo sagrado. Não seria esse o momento oportuno de ouvi-lo, mais extensamente, respeito ao delicado assunto?
Crivei-o de interrogações ansiosas. Alexandre não se mostrou surpreendido e ouviu-me as perguntas, com imperturbável serenidade. Quando me coloquei na atitude de expectativa, respondeu, amavelmente:



- O sexo tem sido tão aviltado pela maioria dos homens reencarnados na Crosta que é muito difícil para nós outros, por enquanto, elucidar o raciocínio humano, com referência ao assunto.


Basta dizer que a união sexual entre a maioria dos homens e mulheres terrestres se aproximam demasiadamente das manifestações dessa natureza entre os irracionais.


 No capítulo de relações dessa espécie, há muita inconsciência criminosa e indiferença sistemática às leis divinas. Desse plano não seria razoável qualquer comentário de nossa parte. Trata-se dum domínio de semibrutos, onde muitas inteligências admiráveis preferem demorar em baixas correntes evolutivas.



É inegável que também aí funcionam as tarefas de abnegados construtores espirituais, que colaboram na formação básica dos corpos, destinados a servirem às entidades que reencarnam nesses círculos mais grosseiros.


Entretanto, é preciso considerar que o serviço, em semelhante esfera, é levado a efeito em massa, com características de mecanismo primitivo. O amor, nesses planos mais baixos, é tal qual o ouro perdido em vasta quantidade de ganga, exigindo largo esforço e laboriosas experiências para revelar-se aos entendidos. Entre as criaturas, porém, que se encaminham, de fato, aos montes de elevação, a união sexual é muito diferente. Traduz a permuta sublime das energias perispirituais, simbolizando alimento divino para a inteligência e para o coração e força criadora não somente de filhos carnais, mas também de obras e realizações generosas da alma para a vida eterna.



Alexandre fez ligeira pausa, sorriu paternalmente e continuou:



- Lembre-se, André, de que me referi a objetivos sagrados da Criação e não exclusivamente ao trabalho procriador.


A procriação é um dos serviços que podem ser realizados por aquele que ama, sem ser o objeto exclusivo das uniões. O Espírito que odeia ou que se coloca em posição negativa, diante da Lei de Deus, não pode criar vida superior em parte alguma.



Compreendi que o problema era muito difícil de ser explanado, mas, como se quisesse desfazer todas as minhas dúvidas, o dedicado instrutor prosseguiu, após breve interrupção:


- É necessário deslocar a concepção do sexo, abstendo-nos de situá-la tão-somente em determinados órgãos do corpo transitório das criaturas. Vejamos o sexo como qualidade positiva ou passiva, emissora ou receptora da alma.


 Chegados a esse entendimento, verificamos que toda manifestação sexual evolui com o ser. Enquanto nos mergulhamos no charco das vibrações pesadas e venenosas, experimentamos, nesse domínio, simplesmente sensações. À medida que nos dirigimos a caminho do equilíbrio, colhemos material de experiências proveitosas, oportunidades de retificação, força, conhecimento, alegria e poder.



Em nos harmonizando com as leis supremas, encontramos a iluminação e a revelação, enquanto os Espíritos Superiores colhem os valores da Divindade. Substituamos as palavras «união sexual» por «união de qualidades» e observaremos que toda a vida universal se baseia nesse divino fenômeno, cuja causa reside no próprio Deus, Pai Criador de todas as coisas e de todos os seres.



As palavras de Alexandre abriam-me novos horizontes ao pensamento. As questões obscuras do tema tornavam-se claras ao meu campo mental. Fazendo-me sentir que os intervalos da conversação se destinavam a fornecer-me tempo de meditar, o benevolente orientador continuou, depois de longa pausa:




- Essa união de qualidades», entre os astros, chama-se magnetismo planetário da atração, entre as almas denomina-se amor, entre os elementos químicos é conhecida por afinidade. Não seria possível, portanto, reduzir semelhante fundamento da vida universal, circunscrevendo-o a meras atividades de certos órgãos do aparelho físico.


A paternidade ou a maternidade é tarefa sublime; não representam, porém, os únicos serviços divinos, no setor da Criação infinita. O apóstolo que produz no domínio da Virtude, da Ciência ou da Arte, vale-se dos mesmos princípios de troca, apenas com a diferença de planos, porque, para ele, a permuta de qualidades se verifica em esferas superiores.


 Há fecundações físicas e fecundações psíquicas. As primeiras exigem as disposições da forma, a fim de atenderem a exigências da vida, em caráter provisório, no campo das experiências necessárias.


As segundas, porém, prescindem do cárcere de limitações e efetua-se nos resplandecentes domínios da alma, em processo maravilhoso de eternidade. Quando nos referimos ao amor do Onipotente, quando sentimos sede da Divindade, nossos espíritos não procuram outra coisa senão a troca de qualidades com as esferas sublimes do Universo, sequiosos do Eterno Princípio Fecundante...


Alexandre fez longa pausa, como se ele mesmo permanecesse embevecido com semelhantes evocações. Por minha vez, achava-me deslumbrado. Nunca ouvira definições tão profundas, referentemente à posição do sexo na vida universal.


- É lamentável - continuou o orientador, gravemente - que a maioria dos nossos irmãos encarnados na Crosta tenha menosprezado as faculdades criativas do sexo, desviando-as para o vórtice de prazeres inferiores.


 Todos pagarão, porém, ceitil por ceitil, o que devem ao altar santificado, através de cuja porta receberam a graça de trabalhar e aprender na superfície da Terra. Todo ato criador está cheio de sagradas comoções da Divindade e são essas comoções sublimes da participação da alma, nos poderes criadores da Natureza, que os homens conduzem, imprevidentemente, para a zona do abuso e da viciação.


Tentam arrastar a luz para as trevas e convertem os atos sexuais, profundamente veneráveis em todas as suas características, numa paixão viciosa tão deplorável como a embriaguez ou a mania do ópio. Entretanto, André, sem que os olhos mortais Lhes observem as angústias retificadoras, todos os infelizes, em semelhantes despenhadeiros, são punidos severamente pela Natureza divina.

A essa altura das luminosas elucidações, sentindo que o respeitável amigo entraria em nova pausa, ousei interrogar:


- Mas não é o uso do sexo uma lei natural na esfera da Crosta?

Alexandre sorriu com benevolência e respondeu:

- Ninguém contesta esse caráter das manifestações sexuais nos círculos da carne, mas todas as leis naturais na experiência humana devem ser exercidas, como em toda parte, sobre as bases da lei universal do bem e da ordem.

Quem foge ao bem, é defrontado pelo crime; quem foge à ordem, cai no desequilíbrio. As uniões sexuais, portanto, que se efetuem à distância desses sublimes imperativos, transformam-se em causas geradoras de sofrimento e perturbação.

Ao demais, não devemos esquecer que o sexo, na existência humana, pode ser um dos instrumentos do amor, sem que o amor seja o sexo. Por isso mesmo, os homens e as mulheres, cuja alma se vai libertando dos cativeiros da forma física, escapam, gradativamente, do império absoluto das sensações carnais.


Para eles, a união sexual orgânica vai deixando de ser uma imposição, porque aprendem a trocar os valores divinos da alma, entre si, alimentando-se reciprocamente, através de permutas magnéticas, não menos valiosas para os setores da Criação Infinita, gerando realizações espirituais para a eternidade gloriosa, sem qualquer exigência dos atritos celulares.

Para esse gênero de criaturas, a união reconfortadora e sublime não se acha circunscrita à emotividade de alguns minutos, mas constitui a integração de alma com alma, através da vida inteira, no campo da Espiritualidade Superior.


 Diante dos fenômenos da presença física, bastam-lhes, na maioria das vezes, o olhar, a palavra, o simples gesto de carinho e compreensão, para que recebam o magnetismo criador do coração amado, impregnando-se de força e estimulo para as mais difíceis edificações.


Imprimiu Alexandre pequeno intervalo à palestra e, em seguida, abanando a cabeça, significativamente, observou:

- Não há criação sem fecundação. As formas físicas descendem das uniões físicas. As construções espirituais procedem das uniões espirituais. A obra do Universo é filha de Deus. O sexo, portanto, como qualidade positiva ou passiva dos princípios e dos seres, é manifestação cósmica em todos os círculos evolutivos, até que venhamos a atingir o campo da Harmonia Perfeita, onde essas qualidades se equilibram no seio da Divindade.


Não ousei quebrar o silêncio que se seguiu. O venerando instrutor, engolfado em profundos pensamentos, não mais voltou ao assunto, compelindo-me, talvez, a meditações mais edificantes.


Esperei, ansioso, o instante de tornar às observações do caso Segismundo. O estudo que encetara era verdadeiramente fascinador.


Foi por isso, com justificada alegria, que recebi o convite de Alexandre para o regresso ao lar de Adelino. O bondoso orientador alegava que era preciso visitar o casal e o amigo em processo reencarnacionista, na véspera da primeira ligação com a matéria orgânica.



Chegados à moradia nossa conhecida, encontramos Herculano e Segismundo em companhia de outras entidades. Alexandre informou-me tratar-se de Espíritos construtores, que iam cooperar na formação fetal do nosso amigo.


Como da outra vez, banhava-se o ninho doméstico na luz crepuscular, mantendo-se a pequena família no mesmo ato de refeição.



Adelino, porém, demonstrava diferente posição espiritual. Cercava-o claro ambiente de otimismo, delicadeza e alegria. Meu amável instrutor, muito satisfeito com a nova situação, passou a examinar os mapas cromossômicos, com a assistência dos construtores presentes.


Em vão procurava compreender aqueles caracteres singulares, semelhantes a pequeninos arabescos, francamente indecifráveis ao meu olhar.

Alexandre, porém, sempre gentil e benevolente, acentuou:


- Este não é um estudo que você possa entender, por enquanto.
Estou examinando a geografia dos genes nas estrias cromossômicas, a fim de certificar-me até que ponto poderemos colaborar em favor de nosso amigo Segismundo, com recursos magnéticos para a organização das propriedades hereditárias.


Conformei-me e passei a observar Segismundo, que parecia extenuado, abatido. Não conseguia manter-se sentado. Assistido pela dedicação de Herculano, conversava dificilmente, conosco, estirado numa cama, em grande prostração.


Demonstrava-se satisfeito com a minha simpatia fraternal e, enquanto os demais lhe estudavam a situação, entretive com ele conversação rápida, que me deu a conhecer, mais uma vez, a penosa impressão dos que se encontram no limiar de nova experiência terrestre.



- Já estive mais animado - disse-me ele, triste -; entretanto, agora, falece-me a energia... Sinto-me fraco, incapacitado... Enquanto lutei por obter a transformação de meu futuro pai, experimentava mais confiança e serenidade... Agora, porém..., Que consegui a dádiva do retorno à luta, tenho receio de novos fracassos...



- Tenha calma - respondi, confortando-o -; a sua oportunidade de redenção é das melhores. Além disso, muitos companheiros segui-lo-ão de perto, colaborando em seu êxito no porvir.


O interlocutor sorriu com dificuldade e observou:


- Sim, reconheço... Dentre todos os irmãos que me assistem agora, Herculano me acompanhará com desvelo e constância... Bem sei.


 No entanto, o renascimento na carne, com os valores espirituais que já possuímos, representa um fato gravíssimo em nosso processo de elevação... Ai de mim, se cair outra vez!...

Dirigia-lhe exortações de coragem e bom ânimo, quando o meu orientador, dando por findo o exame da documentação, se aproximou de nós ambos e falou-lhe com afetuosa autoridade:


- Segismundo, é incrível que desfaleça no momento culminante de suas atuais realizações. Restaure a sua fé, regenere a esperança, porque você não pode entrar na corrente material, à maneira dos nossos irmãos ignorantes e infelizes, que reclamam quase absoluto estado de inconsciência para penetrarem, de novo, o santuário maternal.


 Não deixe de cooperar com a sua confiança em nosso labor para o seu próprio beneficio. Dê trabalho à sua imaginação criadora. Mentalize os primórdios da condição fetal, formando em sua mente o modelo adequado.


Você encontrará na maternidade nobre de Raquel os mais eficientes auxílios e receberá de nós outros a mais decidida colaboração; entretanto, lembre-se de que o seu trabalho individual será muito importante, no setor da adaptação e da recepção, para que triunfe na presente oportunidade.


Não perca tempo em expectativas ansiosas, cheias de dores e apreensões. Levante o padrão de suas forças morais.




Segismundo ouviu, respeitoso, a advertência. Reconheci que as palavras reconfortantes de Alexandre se fizeram seguir de maravilhoso efeito. Segismundo melhorou repentinamente, esforçando-se por alijar a carga de preocupações inúteis.


Impressionado com o esclarecimento do prestimoso mentor, não hesitei em dirigir-lhe nova consulta.


- Existem, então - perguntei sob forte interesse -, aqueles que reencarnam inconsciente do ato que realizam?


- Certamente - respondeu ele, solicito -, assim também como desencarna diariamente na Crosta milhares de pessoas sem a menor noção do ato que experimentam. Somente as almas educadas têm compreensão real da verdadeira situação que se lhes apresenta em frente da morte do corpo.




 Do mesmo modo, aqui. A maioria dos que retomam a existência corporal na esfera do Globo é magnetizada pelos benfeitores espirituais, que lhe organizam novas tarefas redentoras, e quantos recebem semelhantes auxilio são conduzidos ao templo maternal de carne como crianças adormecidas.



O trabalho inicial, que a rigor Lhes compete na organização do feto, passa a ser executado pela mente materna e pelos amigos que os ajudam de nosso plano.


São inúmeros os que regressam à Crosta nessas condições, reconduzidos por autoridades superiores de nossa esfera de ação, em vista das necessidades de certas almas encarnadas, de certos lares e determinados agrupamentos.



A explicação não podia ser mais lógica e, uma vez ainda, admirei no amoroso amigo o dom da clareza e da simplicidade.



Demoramo-nos, por mais algum tempo, naquele ninho acolhedor e, ao despedir-se, quase à meia-noite, após reconfortar o espírito de Segismundo, Alexandre dirigiu-se a Herculano e aos construtores, nestes termos:


- Voltaremos na noite de amanhã, para a ligação inicial, fazendo a entrega de nosso irmão reencarnante aos nossos amigos.


Um dos Espíritos Construtores, que parecia o chefe do grupo em operações, abraçou-o, comovida¬mente, e falou:


- Contamos com o seu concurso para a divisão da cromatina no útero materno.


- Com muito prazer! - redargüiu, bem-humorado.



Voltando a outras ocupações, não continha as idéias novas que a experiência de Segismundo despertava em mim. Como seria feito o auxilio naquelas circunstâncias? Raquel estaria consciente de nossa colaboração? Como interpretaria o casal as atividades de nosso plano, caso viesse a conhecer a extensão de nossa tarefa? Alexandre, porém, incumbiu-se de interromper minhas indagações interiores, acrescentando, como se estivesse ouvindo os meus pensamentos:


- Em casos dessa natureza André, a nossa intervenção desenvolve-se com a mesma santidade que caracteriza o concurso de um médico responsável e honesto, ao praticar a intervenção no parto comum.



A modelagem fetal e o desenvolvimento do embrião obedecem a leis físicas naturais, qual ocorre na organização de formas em outros reinos da Natureza, mas, em todos esses fenômenos, os ascendentes de cooperação espiritual coexistem com as leis, de acordo com os planos de evolução ou resgate. Nosso concurso, portanto, em processos tais, é uma das tarefas mais comuns.



Compreendi a elevação do esclarecimento e pacifiquei a mente, esperando o dia seguinte.


Escoadas, porém, as horas do dia, a curiosidade voltou a espicaçar-me.


Em que momento deveriamos buscar a moradia de Adelino? Sem qualquer intenção menos digna, preocupava-me o instante da primeira ligação de Segismundo à matéria. Agria Alexandre no momento da união sexual ou o fenômeno obedeceria a diferentes determinações?



Meu orientador sorria em silêncio, compreendendo-me a tortura mental. As horas sucediam-se umas às outras e, observando-me a impaciência, Alexandre esclareceu-me, bondoso:



- Não é necessária a nossa presença ao ato de união celular. Semelhantes momentos do tálamo conjugal são sublimes e invioláveis nos lares em bases retas. Você sabe que a fecundação do óvulo materno somente se verifica algumas horas depois da união genesíaca.


 O elemento masculino deve fazer extensa viagem, antes de atingir o seu objetivo.
E, sorrindo, acrescentou:
- Temos tempo.
Compreendi a delicadeza dos esclarecimentos e, sequioso de informações referentes ao assunto, interroguei:


- Com relação às uniões sexuais, de acordo com o seu parecer, todas elas são invioláveis?


- Isto não - aduziu o instrutor, atencioso -, você não deve esquecer que aludi aos «lares em bases retas».



Todos os encarnados que edificam o ninho conjugal, sobre a retidão, conquistam a presença de testemunhas respeitosas, que lhes garantem a privacidade dos atos mais íntimos, consolidando-Lhes as fronteiras vibratórias e defendendo-as contra as forças menos dignas, tomando, por base de seus trabalhos, os pensamentos elevados que encontram no ambiente doméstico dos amigos; não ocorre o mesmo, entretanto, nas moradias, cujos proprietários escolhem baixas testemunhas espirituais, buscando-as em zonas inferiores.



A esposa infiel aos princípios nobres da vida em comum e o esposo que põe sua casa em ligação com o meretrício, não devem esperar que seus atos afetivos permaneçam coroados de veneração e santidade.



Suas relações mais intimas são objeto de participação das desvairadas testemunhas que escolheram. Tornam-se vítimas inconscientes de grupos perversos, que lhes partilham as emoções de natureza fisiológica, induzindo-as a mais dolorosa viciação.


Ainda que esses cônjuges infelizes estejam temporariamente catalogados no pináculo das posições sociais humanas, não poderão trair a miserável condição interior, sequiosos que vivem de prazeres criminosos, dominados de estranha e incoercível volúpia.


A resposta impressionante de Alexandre surpreendeu-me. Compreendi com mais intensidade que cada um de nós permanece com a própria escolha de situação, em todos os lugares. Todavia, nova questão surgia-me no cérebro e procurei movimentá-la, para melhor aclarar o raciocínio.


- Entendo a magnitude de suas elucidações - afirmei, respeitoso.

Entretanto, considerando o perigo de certas atitudes inferiores dos que assumem o compromisso da fundação de um lar, que condição, por exemplo, é a da esposa fiel e devotada, ante um marido desleal e aventureiro, no campo sexual? Permanecerá a mulher nobre e santa à mercê das criminosas testemunhas que o homem escolheu?


- Não! - disse ele, veemente - o mau não pode perturbar o que é genuinamente bom. Em casos dessa espécie, a esposa garantirá o ambiente doméstico, embora isto lhe custe as mais difíceis abnegações e pesados sacrifícios. Os atos que lhe exijam a presença enobrecedora são sagrados, ainda que o companheiro, na vida comum, se tenha colocado em nível inferior aos brutos.


Em situações como essa, no entanto, o marido imprevidente torna-se paulatinamente cego a virtude e converte-se por vezes no escravo integral das entidades perversas que tomou por testemunhas habituais, presentes em todos os seus caminhos e atividades fora do santuário da família. Chegado a esse ponto, é muito difícil impedir-lhe a queda nos desfiladeiros fatais do crime e das trevas.


- Oh! Meu Deus! - exclamei - - quanto trabalho esperando o concurso das almas corajosas: quanta ignorância a ser vencida!...


- Você diz bem - acrescentou o orientador, gravemente -, porque, de fato, a maioria das tragédias conjugais se transfere para além-túmulo, criando pavorosos infernos para aqueles que as viveram na Crosta do Mundo. É muito doloroso observar a extensão dos crimes perpetrados na existência carnal e ai dos desprevenidos que não se esforçam, a tempo, no sentido de combater as paixões baixas! Angustioso lhes é aqui o despertar!...


Calei-me e Alexandre, pensativo, entrou também em silêncio profundo, dando-me a entender suas admiráveis faculdades de concentração.


Eram aproximadamente vinte e duas horas, quando nos pusemos a caminho da residência de Raquel.


A pequena família acabava de recolher-se.

Herculano e os demais receberam-nos com inequívocas demonstrações de carinho.


O chefe dos Construtores dirigiu-se ao meu instrutor, nestes termos:


- Esperávamos pela sua colaboração para iniciarmos o serviço magnético no paciente.
Passamos, em seguida, à pequena câmara, onde Segismundo repousava. Permanecia ele aflito, de olhar triste e vagueante.


Não pude sopitar uma interrogação:




- Por que motivo Segismundo sofre tanto? - indaguei de Alexandre, em tom discreto.

- Desde muito, e, particularmente, desde a semana passada, está em processo de ligação fluídica direta com os futuros pais. Herculano está encarregado de ajudá-lo nesse trabalho.
 À medida que se intensifica semelhante aproximação, ele vai perdendo os pontos de contacto com os veículos que consolidou em nossa esfera, através da assimilação dos elementos de nosso plano.


 Semelhante operação é necessária para que o organismo perispiritual possa retomar a plasticidade que lhe é característica e, no estágio em que ele se encontra, o serviço impõe-lhe sofrimentos.

A observação era muito nova para mim e continuei indagando:


- Mas o organismo perispirítico de Segismundo não é o mesmo que ele trouxe da Crosta, ao desencarnar pela última vez?


- Sim - concordou o orientador -, tem a mesma identidade essencial; todavia, com o curso do tempo, em vista de nova alimentação e novos hábitos em meio muito diverso, incorporou determinados elementos de nossos círculos de vida, dos quais é necessário se desfaça a fim de poder penetrar, com êxito, a corrente da vida carnal.



Para isto, as lutas das ligações fluídicas primordiais com as emoções que lhes são conseqüentes desgastam-lhe as resistências dessa natureza, salientando-se que, nesta noite, faremos a parte restante do serviço, mobilizando, em seu auxilio, nossos recursos magnéticos.
- Oh! - disse eu - não teremos aqui um fato semelhante à morte física na Crosta?


Alexandre sorriu e aquiesceu:


- Sem dúvida, desde que consideremos a morte do corpo carnal como simples abandono de envoltórios atômicos terrestres.


Reconheci, porém, que a hora não comportava longas dissertações, e, vendo que o meu bondoso instrutor fixava a atenção nos Construtores, abstive-me de novas interrogações.


Seguido pelos amigos, Alexandre aproximou-se de Segismundo e falou-lhe, bem-humorado:


- Então? Mais forte?


E, acariciando-lhe a face, acrescentou:


- Você deve estar satisfeito: é chegado o momento decisivo. Todas as nossas expressões de reconhecimento a Deus são insignificantes, diante da nova oportunidade recebida.


- Sim... - falou Segismundo, arquejante - estou grato... Não se esqueçam de mim... Com o auxilio necessário.


E olhando angustiosamente para o meu orientador, observou, inquieto:


- Tenho receio... Muito receio...


Alexandre sentou-se paternalmente ao lado dele e disse-lhe, com ternura:


- Não asile o monstro do medo no coração. A hora é de confiança e coragem. Ouça, Segismundo! Se você guarda alguma preocupação, divida conosco os seus pesares, fale de tudo o que constitua dificuldade em seu intimo!


 Abra sua alma, querido amigo! Lembre-se de que o instante da passagem definitiva de plano se aproxima. Torna-se indispensável manter o pensamento puro, lavado de todos os detritos!



O interlocutor deixou cair algumas lágrimas e conversou com esforço:



- Sabe que empreendi pequenina obra de socorro, nas cercanias de nossa colônia espiritual... A obra foi autorizada pelos nossos Maiores e... Apesar do bom funcionamento... Sinto que não está terminada e que tenho em sua estrutura grandes responsabilidades... Não sei se fiz bem... Pedindo agora o retorno à Crosta do Mundo, antes de consolidar meu trabalho... Entretanto... Reconheci que para seguir além... Precisava reconciliar-me com a própria consciência, buscando os adversários de outro tempo... A fim de resgatar minhas faltas...



E enquanto o instrutor e os demais amigos o acompanhavam, em silêncio, Segismundo pros¬seguia:



- Foi por isto... Que insisti tanto pela obtenção de minha volta...


Como poderia conduzir os outros à plena conversão espiritual... Diante dos ensinamentos do Cristo... Sem haver pago minhas próprias dívidas? Como ensinar os irmãos sofredores... Sofrendo eu mesmo... Dolorosas chagas em virtude do passado cruel? Agora, porém... Que se aproxima o recomeço difícil... Tortura-me o receio de errar novamente... Quando Raquel e Adelino voltaram... Prometeram-me amparos fraternais e estou certo... De que serão dois benfeitores para mim... No entanto... Afligem-me receios e ansiedades ante o futuro desconhecido...


Valendo-se da pausa que se fizera naturalmente, Alexandre tomou a palavra, com franqueza e otimismo:


- Não adianta inquietar-se tanto, meu amigo! Desprenda-se de suas criações aqui. Todas as nossas obras, efetuadas de acordo com as leis divinas, sustentam-se por si mesmas e esperam-nos em qual¬quer tempo para a colheita de saborosos frutos de alegria eterna. Somente o mal está condenado à destruição e apenas o erro necessita laboriosos processos de retificação.


Esteja, portanto, calmo e feliz. Sua insistência pelo regresso atual aos círculos terrenos foi muito bem lembrado. O resgate do desvio de outra época concederá ao seu espírito uma luz nova e mais brilhante. Persevere no seu propósito. Valer-se da escola, receber-lhe a orientação sublime, assenhorear-se-lhe dos benefícios, representa a maior felicidade do aluno fiel.


Assim, pois, Segismundo, a sua felicidade de voltar agora à esfera carnal é muito grande. Lave a sua mente na água viva da confiança em Deus, e caminhe. Para a nova experiência você não pode levar senão o patrimônio divino já adquirido com o seu esforço para a vida eterna, constituída pelas idéias enobrecedoras e pelas luzes intimas que o seu espírito já conquistou.

Não se detenha, desse modo, em lembranças dos aspectos exteriores de nossas atividades neste plano. Persistir em semelhantes estados d’alma poderá trazer conseqüências muito graves, porquanto a sua inadaptação perturbaria o desenvolvimento fetal e determinaria a morte prematura de seu novo aparelho físico, no período infantil. Não se prenda a receios pueris. É verdade que você deve e precisa pagar, mas, em sã consciência, qual de nós não é devedor? Com tristeza e abatimento nunca resgataremos nossos débitos. É indispensável criar esperanças novas.

Segismundo fez um gesto significativo de afirmação e sorriu com dificuldade, mostrando-se menos triste.


- Não perturbe o seu trabalho valioso do momento. Recorde as graças que temos recebido e não tema!


Calando-se o mentor, notei que Segismundo, sob forte emoção, não conseguia recursos para manter a palestra. Vi-o, porém, tomar a destra de Alexandre, com infinito esforço, beijando-a, respeitoso, em sinal de reconhecimento.


Ponderei, então, no concurso enorme que todos recebemos ao regressar ao círculo carnal. Aqueles devotados benfeitores auxiliavam Segismundo, desde o primeiro dia, e, ainda ali, diante do possível recuo do interessado, eles mesmos se mostravam dispostos a consolar-lhe todas as tristezas, levantando-lhe o ânimo para o êxito final.



Os Espíritos Construtores começaram o trabalho de magnetização do corpo perispirítico, no que eram amplamente secundados pelo esforço do abnegado orientador, que se mantinha dedicado e firme em todos os campos de serviço.


Sem que me possa fazer compreendido, de pronto, pelo leitor comum, devo dizer que «alguma coisa da forma de Segismundo estava sendo eliminada». Quase que imperceptivelmente, à medida que se intensificavam as operações magnéticas, tornava-se ele mais pálido. Seu olhar parecia penetrar outros domínios. Tornava-se vago, menos lúcido.


A certa altura, Alexandre falou-lhe com autoridade:

- Segismundo, ajude-nos! Mantenha clareza de propósitos e pensamento firme!


Tive a impressão de que o reencarnante se esforçava por obedecer.


- Agora - continuou o instrutor - sintonize conosco relativamente à forma pré-infantil. Mentalize sua volta ao refúgio maternal da carne terrestre! Lembre-se da organização fetal, faça-se pequenino! Imagine sua necessidade de tornar a ser criança para aprender a ser homem!


Compreendi que o interessado precisava oferecer o maior coeficiente de cooperação individual para o êxito amplo. Surpreendido, reconheci que, ao influxo magnético de Alexandre e dos Construtores Espirituais, a forma perispiritual de Segismundo tornava-se reduzida.


A operação não foi curta, nem simples. Identificava o esforço geral para que se efetuasse a redução necessária.


Segismundo parecia cada vez menos consciente. Não nos fixava com a mesma lucidez e suas respostas às nossas perguntas afetuosas não se revelavam completas.


Por fim, com grande assombro meu, verifiquei que a forma de nosso amigo assemelhava-se à de uma criança.


O fenômeno espantava-me e não pude conter as interrogações que se me represavam no íntimo. Observando que Alexandre e os Construtores se dispunham a alguns minutos de intervalo, antes da penetração na câmara conjugal, acerquei-me do prestimoso orientador, que me percebeu, num relance, a curiosidade.


Acolheu-me, cortês como sempre, e falou:


- Já sei. Você permanece torturado pelo espírito de pesquisa.

Sorri desapontado, mas cobrei ânimo e indaguei:


- Como pode ser o que vejo? Ignorava que o renascimento compelisse o plano espiritual a serviços tão complexos!


- O trabalho enobrecedor está em toda parte - acentuou Alexandre, intencionalmente. - O paraíso da ociosidade é talvez a maior ilusão dos princípios teológicos que obscureceram na Crosta o sentido divino da verdadeira Religião.


Fez uma pausa, fixou um gesto expressivo e continuou:


- Quanto à estranheza de que se sente possuído, não vemos razão para tanto.
 A desencarnação normal na Terra obriga o corpo denso de carne a não menores modificações. A enfermidade mortal, para o homem terreno, não deixa, em certo sentido, de ser prolongada operação redutiva, libertando por fim a alma, desembaraçando-a dos laços fisiológicos. Há pessoas que, depois de algumas semanas de leito, se tornam francamente irreconhecíveis. E devemos considerar que o aparelho físico permanece muito distante da plasticidade do corpo perispiritual, profundamente sensível a influenciação magnética.


A explicação não podia ser mais lógica.

- O que vimos, porém, com Segismundo perguntei - é regra geral para todos os casos?


- De modo algum respondeu o instrutor, atencioso -, os processos de reencarnação, tanto quanto os da morte física, diferem ao infinito, não existindo, segundo cremos, dois absolutamente iguais. As facilidades e obstáculos estão subordinados a fatores numerosos, muitas vezes relativos ao estado consciencial dos próprios interessados no regresso à Crosta ou na libertação dos veículos carnais. Há companheiros de grande elevação que, ao voltarem à esfera mais densa em apostolado de serviço e iluminação, quase dispensam o nosso concurso. Outros irmãos nossos, contudo, procedentes de zonas inferiores, necessitam de cooperação muito mais complexa que a exercida no caso de Segismundo.
- Não deveriam renascer, porém - interroguei, curioso -, tão somente aqueles que se revelassem preparados?


- Não podemos esquecer, no entanto - refutou meu esclarecido interlocutor -, que a reencarnação é o curso repetido de lições necessárias. A esfera da Crosta é uma escola divina. E o amor, por intermédio das atividades «intercessórias», reconduz diariamente ao banco escolar da carne milhões de aprendizes.


O orientador amigo calou-se por alguns instantes, e prosseguiu:


- A reencarnação de Segismundo obedece às diretrizes mais comuns. Traduz expressão simbólica da maioria dos fatos dessa natureza, porquanto o nosso irmão pertence à enorme classe média dos Espíritos que habitam a Crosta, nem altamente bons, nem conscientemente maus. Acresce notar, todavia, que à volta de certas entidades das regiões mais baixas ocasiona laboriosos e pacientes esforços dos trabalhadores de nosso plano. Semelhantes seres obrigam-nos a processos de serviço que você gastará ainda muito tempo para compreender.


As elucidações de Alexandre calavam-me fundo, satisfazendo-me a pesquisa intelectual; entretanto, novas indagações surgiam-me na mente sequiosa. Foi então que, premido por intensa e legítima curiosidade, perguntei, respeitoso:



- O auxílio que vemos atingirá, porventura, a todos? Aqui nos encontramos num lar em bases retas, segundo sua própria afirmação. Mas... Se nos achássemos numa casa típica de deboche carnal? E se fôssemos aqui defrontados por paixões criminosas e desvarios desequilibrantes?


O instrutor meditou gravemente e redargüiu:


- André, o diamante perdido no lodo, por algum tempo, não deixa de ser diamante. Assim, também, a paternidade e a maternidade, em si mesmas, são sempre divinas. Em todo lugar desenvolve-se o auxilio da esfera superior, desde que se encontre em jogo o trabalho da Vontade de Deus. Entretanto, devemos considerar que, em tais circunstâncias, as atividades de auxilio são verdadeiramente sacrificiais.


As vibrações contraditórias e subversivas das paixões desvairadas da alma em desequilíbrio comprometem os nossos melhores esforços, e, muitas vezes, nessas paisagens de irresponsabilidade e viciação, para ajudar, em obediência ao nosso ministério, devemos, antes de tudo, lutar contra entidades monstruosas, dominadoras dos círculos de vida dos homens e das mulheres que, imprevidentemente, escolhe o perigoso caminho da perturbação emocional, onde tais entidades ignorantes e desequilibradas transitam.


 Nesses casos, nem sempre a nossa colaboração pode ser perfeita, porquanto são os próprios pais que, menosprezando a grandeza do mandato que lhes foi confiado, abrem as portas de suas potências sagradas aos impiedosos monstros da sombra que lhes perseguem os filhos nascituros.



Certas almas heróicas escolhem semelhante entrada na existência carnal, a fim de se fortalecerem nas resistências supremas contra o mal, desde os primeiros dias de serviço uterino. Entretanto, devemos considerar que é preciso ser suficientemente forte na fé e na coragem para não sucumbir. Nos renascimentos dessa espécie, o maior número de criaturas, porém, cumpre o programa salutar das provações retificadoras. Muitas fracassam; todavia, há sempre grande quantidade das que retiram os melhores lucros espirituais no setor da experiência para a vida eterna.



Alexandre comentara o assunto com imponente beleza. Começava eu a compreender a procedência de certos fenômenos teratológicos e de determinadas moléstias congênitas que, no mundo, confrangem o coração. As asserções do momento levavam-me a novo e fascinante estudo - a questão das provas retificadoras e necessárias.




Em seguida Alexandre convidou os Construtores a examinarem os mapas cromossômicos, em companhia dele, junto de Herculano.



Acompanhei o trabalho com interesse, embora absolutamente desprovido de competência para ajuizar com precisão, relativamente aos caprichosos desenhos sob nosso olhar.


Não me é dado transmitir determinadas definições daquela pequena assembléia de autoridades espirituais, por falta de elementos para a comparação analógica, mas posso dizer que, finda a parte propriamente técnica das conversações, o meu orientador acrescentava, satisfeito:



- Com exceção do tubo arterial, na parte a dilatar-se para o mecanismo do coração, tudo irá muito bem. Todos os genes poderão ser localizados com normalidade absoluta.
Depois de pequena pausa, acentuou:



- Os membros e os órgãos serão excelentes. E se o nosso amigo souber valorizar as oportunidades do futuro, possivelmente conquistará o equilíbrio do aparelho circulatório, mantendo-se em serviço de iluminação por abençoado tempo de trabalho terrestre. Depende dele o êxito preciso. Voltando-se para os Construtores, falou-lhes, afável:



- Meus amigos, o nosso Herculano permanecerá em definitivo junto de Segismundo, na nova experiência, até que ele atinja os sete anos, após o renascimento, ocasião em que o processo reencarnacionista estará consolidado.
Depois desse período, a sua tarefa de amigo e orientador será amenizada, visto que seguirá o nosso irmão em sentido mais distante. Sei que o devotado companheiro tomará todas as providências indispensáveis à harmoniosa organização fetal, seja auxiliando o reencarnante, seja defendendo o templo maternal contra o assédio de forças menos dignas; entretanto, peço-lhes muita atenção nos primórdios de formação do timo, glândula, como sabem, de importância essencial para a vida infantil, desde o útero materno.



Precisamos do equilíbrio perfeito desse departamento glandular, até que se forme a medula óssea e se habilite à produção dos corpúsculos vermelhos para o sangue. Os diversos gráficos das disposições cromossômicas facilitarão os serviços dessa natureza.


Alguns dos amigos presentes passaram a observar os mapas com maior atenção.


Enquanto se estendiam, sob meus olhos, aqueles microscópicos sinais, facultando amplo exame da célula-ovo, acerquei-me do instrutor e, sentindo-o mais acessível às minhas interrogações, perguntei:


- Temos, nestes mapas, a geografia dos genes da hereditariedade distribuídos nos cromossomos. A lei da herança, porém, será ilimitada? A criatura receberá, ao renascer, a total imposição dos característicos dos pais? As enfermidades ou as disposições criminosas serão transmissíveis de maneira integral?


- Não, André - observou o orientador, com grave inflexão -, estamos diante dum fenômeno físico natural. O organismo dos nascituros, em sua expressão mais densa, provém do corpo dos pais, que lhes entretêm a vida e lhes criam os caracteres com o próprio sangue; todavia, em semelhante imperativo das leis divinas para o serviço de reprodução das formas, não devemos ver a subversão dos princípios de liberdade espiritual, imanente na ordem da Criação Infinita.



Por isso mesmo, a criatura terrena herda tendências e não, qualidades. As primeiras cercam o homem que renasce, desde os primeiros dias de luta, não só em seu corpo transitório, mas também no ambiente geral a que foi chamado a viver, aprimorando-se; as segundas resultam do labor individual da alma encarnada, na defesa, educação e aperfeiçoamento de si mesma nos círculos benditos da experiência. Se o Espírito reencarnado estima as tendências inferiores, desenvolvê-las-á, ao reencontrá-las dentro do novo quadro de experiência humana, perdendo um tempo precioso e menosprezando o sublime ensejo de elevação.



Todavia, se a alma que regressa ao mundo permanece disposta ao serviço de auto-elevação, sobrepairará a quaisquer exigências menos nobres do corpo ou do ambiente, triunfando sobre as condições adversas e obtendo títulos de vitória da mais alta significação para a vida eterna. Em sã consciência, portanto, ninguém se pode queixar de forças destruidoras ou de circunstâncias asfixiantes, em se referindo ao círculo onde renasceu. Haverá sempre, dentro de nós, a luz da liberdade intima indicando-nos a ascensão. Praticando a subida espiritual, melhoraremos sempre. Esta é a lei.



Em virtude das anteriores explicações do orientador, relativamente à importância da assistência de Herculano a Segismundo reencarnado, até aos sete anos, procurei obter do instrutor alguma elucidação a respeito. Pedi desculpas a Alexandre, todavia, não me pude furtar à delicada inquirição. Porque tamanho cuidado com o sangue do futuro recém-nascido? Somente aos sete anos iniciais de existência humana estaria terminado o serviço de reencarnação?


Como sempre acontecia, o nobre mentor ou, viu-me, complacente, sorriu qual pai carinhoso, e respondeu, solicito:


- Você não ignora que o corpo humano tem as suas atividades propriamente vegetativas, mas talvez ainda não saiba que o corpo perispiritual, que dá forma aos elementos celulares, está fortemente radicado no sangue. Na organização fetal, o patrimônio sanguíneo é uma dádiva do organismo materno.


Logo após o renascimento, inicia-se o período de assimilação diferente das energias orgânicas, em que o «eu» reencarnado ensaia a consolidação de suas novas experiências e, somente aos sete anos de vida comum, começa a presidir, por si mesmo, ao processo de formação do sangue, elemento básico de equilíbrio ao corpo perispirítico ou forma preexistente, no novo serviço iniciado.



O sangue, portanto, é como se fora o fluido divino que nos fixa as atividades no campo material e em seu fluxo e refluxo incessante, na organização fisiológica, nos fornece o símbolo do eterno movimento das forças sublimes da Criação Infinita. Quando a sua circulação deixa de ser livre, surge o desequilíbrio ou enfermidade e, se surgem obstáculos que impedem o seu movimento, de maneira absoluta, então sobrevém a extinção do tônus vital, no campo físico, ao qual se segue a morte com a retirada imediata da alma.


Fortemente impressionado com a revelação do respeitável amigo, observei:


- Oh! Como é grande a responsabilidade do homem, em frente ao corpo material!


- Diz bem - acrescentou o orientador - ao se referir com semelhante admiração a esse soberano dever da criatura reencarnada. Sem atender às pesadas responsabilidades que lhe competem na preservação do vaso físico, homem algum poderá realizar o progresso espiritual.



 O Espírito renasce na carne para a produção de valores divinos em sua natureza; mas como atender ao semelhante imperativo, destruindo a máquina orgânica, base fundamental do serviço a fazer? Inda agora, referia-se você à lei da herança. O corpo terreno é também um patrimônio herdado há milênios e que a Humanidade vem aperfeiçoando, através dos séculos. O plasma, sublime construção efetuada ao influxo divino, com água do mar, nas épocas primitivas, é o fundamento primordial das organizações fisiológicas. Em voltando à Crosta, temos de aproveitar-lhe a herança, mais ou menos evolvida no corpo humano.



A essa altura das elucidações surpreendentes para mim, Alexandre, depois de ligeiro intervalo, continuou:


- Por isso mesmo, não desconhece você que, enquanto nos movimentamos na esfera da carne, somos criaturas marinhas respirando em terra firme.



No processo vulgar de alimentação, não podemos prescindir do sal; nosso mecanismo fisiológico, a rigor, se constitui de sessenta per cento de água salgada, cuja composição é quase idêntica à do mar, constante dos sais de sódio, de cálcio, de potássio. Encontra-se, na esfera de atividade fisiológica do homem reencarnado, o sabor do sal no sangue, no suor, nas lágrimas, nas secreções. Os corpúsculos aclimatados nos mares mais quentes viveriam à vontade no liquido orgânico. Há verdadeiras surpresas de comparação analógica que poderíamos efetuar neste sentido.



Não soube o que responder, em vista das definições ouvidas, e, ante o meu silêncio, foi o próprio Alexandre que continuou, depois de significativa parada:
- Como vê, ao renascermos na Crosta do Mundo, recebemos com o corpo uma herança sagrada, cujos valores precisamos preservar, aperfeiçoando-o. As forças físicas devem evoluir como as nossas almas. Se nos oferecem o vaso de serviço para novas experiências de elevação, devemos retribuir, com o nosso esforço, auxiliando-as com a luz de nosso respeito e equilíbrio espiritual, no campo de trabalho e educação orgânica.



O homem do futuro compreenderá que as suas células não representam apenas segmentos de carne, mas companheiras de evolução, credoras de seu reconhecimento e auxilio efetivo. Sem esse entendimento de harmonia no império orgânico, é inútil procurar a paz.


A conversação brilhante do orientador magnânimo e sábio sugeria sublimes questões. Entretanto, ele mesmo recordou-me o trabalho em curso e deu por findos os esclarecimentos daquela hora.


Estávamos a duas horas depois de meia-noite.


Permaneciam agora, ao nosso lado, não somente Alexandre e os Construtores, mas também diversos amigos espirituais da família.


Congregando todos os companheiros em torno de si, como figura máxima daquela reunião, Alexandre falou, gravemente:


- Agora, meus irmãos, penetremos a câmara de nossos dedicados colaboradores para que se efetue o júbilo da união espiritual.


E, depositando Segismundo nos braços da entidade que fora na Crosta Terrestre a carinhosa mãe de Raquel, acentuou:


- Seja você, minha irmã, a portadora do sagrado depósito. O coração filial que nos espera sentirá novas felicidades ao contacto de sua ternura. Raquel bem merece semelhante alegria.


Voltando-se para a assembléia ali congregada, explicou:


- Faremos agora o ato de ligação inicial, em sentido direto, de Segismundo com a matéria orgânica. Espero, porém, caros companheiros, a visita reiterada de todos vocês ao nosso irmão reencarnante, principalmente no período de gestação do seu corpo futuro.



 Não ignoram o valor da colaboração afetuosa nesse serviço. Somente aqueles que semearam muitas afeições podem receber o concurso de muitos amigos e Segismundo deve receber esse prêmio pelos seus nobres sentimentos e elevados trabalhos a todos nós, nestes últimos anos em que se devotou a grandes obras de benemerência e fraternidade.



Logo após, penetrávamos o aposento conjugal, onde o espetáculo íntimo era divinamente belo. No leito de madeira, em macios lençóis de linho, repousavam dois corpos que a bênção do sono imobilizava, mas, ali mesmo, Adelino e Raquel nos esperavam em espírito, conscientes da grandeza da hora em curso.


Em despertando na esfera densa de luta e aprendizado, seus cérebros carnais não conseguiriam fixar a reminiscência perfeita daquela cena espiritual, em que se destacavam como principais protagonistas; contudo, o fato gravar-se-ia para sempre em sua memória eterna.


Os amigos invisíveis do lar, companheiros de nosso plano, haviam enchido a câmara de flores de luz. Desde a meia-noite, haviam obtido permissão para ingressar no futuro berço de Segismundo, com o amoroso propósito de adornar-lhe os caminhos do recomeço.



Mais de cem amigos se reuniam ali, prestando-lhe afetuosa homenagem.
Alexandre caminhou à nossa frente, cumprimentando carinhosamente o casal, temporariamente desligado dos veículos físicos.


Em seguida, com a melhor harmonia, os presentes passaram às saudações, enchendo de conforto celeste o coração dos cônjuges esperançosos.
O quadro era lindo e comovedor.


Duas entidades, ao meu lado, comentavam fraternalmente:



- É sempre penoso voltar à carne, depois de havermos conhecido as regiões de luz divina; entretanto, é tão sagrado o amor cristão que, mesmo em tal circunstância, sublime é a felicidade daqueles que o praticam.

- Sim - respondeu a outra -, Segismundo tem lutado muito pela redenção e, nessa luta, vem sendo um servo devotado de todos nós. Bem merece as alegrias desta hora.



A esse tempo, observei que a entidade convidada a guardar o reencarnante se mantinha à pequena distância de Raquel, entre os Espíritos Construtores.


Refletia sobre esse fato, quando alguém me tocou levemente, despertando-me a atenção:


Era Alexandre que sorria paternalmente, elucidando-me:


- Deixemos os nossos amigos, por alguns minutos, no suave contentamento das expansões afetivas. Iniciaremos o trabalho no momento oportuno.



Perplexo, diante dos fatos novos para mim, eu não acomodara o raciocínio em face dos múltiplos problemas daquela noite. Por isso mesmo, alucinantes interrogações vagueavam-me no cérebro. O orientador percebeu-me o estado d’alma e, talvez por esse motivo, deu-me a impressão de mais paciente.


Valendo-me daquele instante, indiquei Segismundo, recolhido nos braços acolhedores que o guardavam, e perguntei:



- Nosso irmão reencarnante apresentar-se-á, mais tarde, entre os homens, tal qual vivia entre nós? Já que as suas instruções se baseiam na forma perispiritual preexistente, terá ele a mesma altura, bem como as mesmas expressões que o caracterizavam em nossa esfera?


Alexandre respondeu sem titubear:


- Raciocine devagar, André! Falamos da forma preexistente, nela significando o modelo de configuração típica ou, mais propriamente, o «uniforme humano». Os contornos e minúcias anatômicas vão desenvolver-se de acordo com os princípios de equilíbrio e com a lei da hereditariedade.



A forma física futura de nosso amigo Segismundo dependerá dos cromossomos paternos e maternos; adicione, porém, a esse fator primordial, a influência dos moldes mentais de Raquel, a atuação do próprio interessado, o concurso dos Espíritos Construtores, que agirão como funcionários da natureza divina, invisíveis ao olhar terrestre, o auxilio afetuoso das entidades amigas que visitarão constantemente o reencarnante, nos meses de formação do novo corpo, e poderá fazer uma idéia do que vem a ser o templo físico que ele possuirá, por algum tempo, como dádiva da Superior Autoridade de Deus, a fim de que se valha da bendita oportunidade de redenção do passado e iluminação para o futuro, no tempo e no espaço.


Alguns fisiologistas da Crosta concordam em asseverar que a vida humana é uma resultante de conflitos biológicos, esquecidos de que, muitas vezes, o conflito aparente das forças orgânicas não é senão a prática avançada da lei de cooperação espiritual.


- Segismundo terá então - insisti - uma forma física eventual, imprecisa, por enquanto, ao nosso conhecimento?


O instrutor esclareceu sem demora:


- Se estivéssemos diretamente ligados ao caso dele, estaríamos de posse de todas as informações referentes ao porvir, nesse particular, mas a nossa colaboração neste acontecimento é transitória e sem maior significação no tempo. Os orientadores de Segismundo, porém, nas esferas mais altas, guardam o programa traçado para o bem do reencarnante. Note que me refiro ao bem e não ao destino. Muita gente confunde plano construtivo com fatalismo. O próprio Segismundo e o nosso irmão Herculano estão de posse dos informes a que nos reportamos, porque ninguém penetra num educandário, para estágio mais ou menos longo, sem finalidade especifica e sem conhecimento dos estatutos a que deve obedecer.

Nesse ponto, o mentor generoso fez ligeiro intervalo e continuou em seguida:


- Os contornos anatômicos da forma física, disformes ou perfeitos, longilíneos ou brevilíneos, belos ou feios, fazem parte dos estatutos educativos. Em geral, a reencarnação sistemática é sempre um curso laborioso de trabalho contra os defeitos morais preexistentes nas lições e conflitos presentes. Pormenores anatômicos imperfeitos, circunstâncias adversas, ambientes hostis, constituem, na maioria das vezes, os melhores lugares de aprendizado e redenção para aqueles que renascem.


Por isso, o mapa de provas úteis é organizado com antecedência, como o caderno de apontamentos dos aprendizes nas escolas comuns. Em vista disso, o mapa alusivo a Segismundo está devidamente traçado, levando-se em conta a cooperação fisiológica dos pais, a paisagem doméstica e o concurso fraterno que lhe será prestado por inúmeros amigos daqui. Imagine, pois, o nosso amigo voltando a uma escola, que é a Terra; assim procedendo, alimenta um propósito que é o da aquisição de valores novos. Ora, para realizá-lo terá de submeter-se às regras do educandário, renunciando, até certo ponto, à grande liberdade de que dispõe em nosso meio.


- Não poderíamos, porém - indaguei -, intitular semelhante prova de - «destino fixado»?

O instrutor aduziu com paciência:


- Não incida no erro de muita gente. Isto implicaria obrigatoriedade de conduta espiritual. Naturalmente, a criatura renasce com independência relativa e, por vezes, subordinada a certas condições mais ásperas, em virtude das finalidades educativas, mas semelhante imperativo não suprime, em caso algum, o impulso livre da alma, no sentido de elevação, estacionamento ou queda em situações mais baixas. Existe um programa de tarefas edificantes a serem cumpridas por aquele que reencarna, onde os dirigentes da alma fixam a cota aproximada de valores eternos que o reencarnante é suscetível de adquirir na existência transitória. E o Espírito que torna à esfera de carne pode melhorar essa cota de valores, ultrapassando a previsão superior, pelo esforço próprio intensivo, ou distanciar-se dela, enterrando-se ainda mais nos débitos para com o próximo, menosprezando as santas oportunidades que lhe foram conferidas.


A essa altura, Alexandre interrompeu-se, talvez ponderando o tempo gasto em nossa conversação, e, como quem sentia necessidade de pôr termo à palestra, observou:



- Todo plano traçado na Esfera Superior tem por objetivos fundamentais o bem e a ascensão, e toda alma que reencarna no círculo da Crosta, ainda aquela que se encontre em condições aparentemente desesperadoras, tem recursos para melhorar sempre.


Logo após, convidou-me o orientador amigo a nos aproximarmos do casal.
Recordou Alexandre que a hora ia adiantada e devíamos entregar aos cônjuges felizes o sagrado depósito.



Os Construtores, por intermédio do mentor que os dirigia, pediram-lhe fizesse a prece daquele ato de confiança e observei que profundo silêncio se fizera entre todos.


Dispunha-se o instrutor ao serviço da oração, quando Raquel se lhe aproximou, e pediu, humilde:


- Boníssimo amigo, se é possível, desejaria receber meu novo filho, de joelhos!...


Alexandre aquiesceu sorrindo e, mantendo-se entre ela, genuflexa, e Adelino que se conservava, como nós outros, de pé, extremamente comovido, começou a orar, estendendo as mãos generosas para o alto:


- «Pai de Amor e Sabedoria, digna-Te abençoar os filhos de Tua Casa Terrestre, que vão partilhar contigo, neste momento, a divina faculdade criadora! Senhor, faze descer, por misericórdia, a Tua bênção neste ninho afetuoso, transformado em asilo de reconciliação. Aqui nos reunimos, companheiros de luta no passado, acompanhando o amigo que retorna ao testemunho de humildade e compreensão de Tua lei!



 «Oh! Pai, fortifica-o para a travessia longa do rio do esquecimento temporário, permite que possamos manter sempre viva a sua esperança, ajuda-nos, ainda e sempre, para que possamos vencer todo o mal!



«Concede aos que recebem agora o novo ministério de orientação do lar, com o nascimento de um novo filho, a Tua luz generosa e santificada, que dissipa todas as sombras! Fortalece-lhes, Senhor, a noção de responsabilidade, abre-lhes a porta de Tua confiança sublime, conserva-os na bendita alegria de Teu amor desvelado! Restaura-lhes a energia para que recebam, jubilosos, a missão da renúncia até ao fim, santifica-Lhes os prazeres para que não se percam nos despenhadeiros da fantasia!



«Este, Senhor, é um ato de confiança de Tua bondade infinita que desejamos honrar para sempre! Abençoa, pois, o nosso trabalho amoroso e, sobretudo, Pai, suplicamos Tua graça para a nossa irmã que se entrega, reverente, ao divino sacrifício da maternidade. Unge-Lhe o coração com a Tua magnanimidade paternal, intensifica-Lhe o bom ânimo, dilata-lhe a fé no futuro sem fim! Sejam para ela, em particular, os nossos melhores pensamentos, nossos votos de paz e esperanças mais puras!



«Acima de tudo, porém. Senhor, seja feita a Tua vontade em todos os recantos do Universo, e que nos caiba, a nós, humildes servos de Teu reino, a alegria incessante de reverenciar-Te e obedecer-Te para sempre!...»



Calara-se Alexandre, observando eu que todo o aposento se enchia de novas luzes. Reconheci que de todos nós, entidades espirituais que ali nos congregávamos, partiam raios luminosos que se derramavam sobre Raquel em pranto de emoção sublime, mas o fenômeno radioso não se circunscreveu a isto. Tão logo o meu orientador se calara, alguma coisa parecia responder à sua súplica. Leve rumor, que apenas encontrava eco em nossos ouvidos se fazia sentir acima de nossas cabeças. Ergui-me, surpreso, e pude ver que uma coroa brilhante e infinitamente bela descia do alto sobre a fronte de Raquel, ajoelhada, em silêncio. Tive a impressão de que a auréola se compunha de turmalinas eterizadas, que miraculoso ourives houvera tornado resplandecentes. Seu brilho feria-nos o olhar e o próprio Alexandre, ao fixá-la, curvou-se, reverente. A coroa sublime, sustentada por Espíritos muito superiores a nós, que eu não podia ver, descansou sobre a fronte de Raquel.



Notei, embora a comoção do momento, que o meu instrutor fez um gesto à depositária de Segismundo, para que efetuasse a entrega do reencarnante aos braços maternais.


Raquel, dando-me a impressão de que não via a luminosa auréola, ergueu os olhos rasos de lágrimas e recebeu o depósito que o Céu lhe confiava. Alexandre estendeu-Lhe a destra, ajudando-a a levantar-se, e vi que Adelino se aproximou da esposa, estreitando-a carinhosamente nos braços, beijando-lhe a fronte orvalhada de luz.


Foi então, ó divino mistério da Criação Infinita de Deus, que a vi apertar a «forma infantil» de Segismundo de encontro ao coração, mas tão fortemente, tão amorosamente, que me pareceu uma sacerdotisa do Poder da Divindade Suprema. Segismundo ligara-se a ela como a flor se une à haste. Então compreendi que, desde aquele momento, era alma de sua alma aquele que seria carne de sua carne.


Alexandre recomendou aos amigos presentes, com exceção dos Construtores, de Herculano e de mim, que se afastassem da câmara, conduzindo Adelino, confortado e feliz, a pequena excursão pelo exterior, e, guiando Raquel, com infinito cuidado, ao corpo físico, disse-nos:


- Agora, auxiliemos nosso amigo no primeiro contacto com a matéria mais densa.


Raquel acordara, experimentando no coração estranha ventura. Abraçou-se, instintivamente, ao companheiro adormecido, como o navegante feliz, ao sentir-se em porto de tranqüilidade e segurança. Havia atravessado o espesso véu de vibrações que separa o plano espiritual da esfera física e não conservava qualquer reminiscência precisa da sublime felicidade de momentos antes; todavia, seu sentimento de júbilo permanecia dilatado, suas esperanças transbordavam e uma confiança imensa no porvir acalentava-lhe, agora, o coração. Seria mãe pela segunda vez? - pensava, contente. Essa idéia, que lhe não despontava no cérebro por acaso, balsamizava-lhe a alma com deliciosa alegria. Estava pronta para o serviço divino da maternidade, confiaria no Senhor como escrava de sua bondade infinita,


Não via a esposa de Adelino que Alexandre e os Construtores Espirituais lhe rodeavam a mente de sublime luz, banhando-Lhe as idéias com a água viva do amor espiritual.


Observando que a forma de Segismundo se ligara a ela, por divino processo de união magnética, recebi a determinação do meu orientador para seguir-lhe, de perto, o trabalho de auxilio na ligação definitiva de Segismundo à matéria.


Indicando os órgãos geradores de Raquel e fazendo incidir sobre eles a sua luz, Alexandre preveniu-me, quanto à grandeza do quadro sob nossa observação, acentuando, respeitosamente:


- Temos aqui o altar sublime da maternidade humana. Perante o seu augusto tabernáculo, ao qual devemos a claridade divina de nossas experiências, devemos cooperar, na tarefa do amor, guardando a consciência voltada para a Majestade Suprema.


Inclinei-me para a organização feminina de nossa irmã reencarnada, dentro de uma veneração que nunca, até então, havia sentido.



Auxiliado pelo concurso magnético do mentor querençoso, passei a observar as minúcias do fenômeno da fecundação.


Através dos condutos naturais, corriam os elementos sexuais masculinos, em busca do óvulo, como se estivessem preparados de antemão para uma prova eliminatória, em corrida de três milímetros, aproximadamente, por minuto. Surpreendido, reconheci que o número deles se contava por milhões e que seguiam, em massa, para frente, em impulso instintivo, na sagrada competição.


No silêncio sublime daqueles minutos, compreendi que Alexandre, em vista de ser o missionário mais elevado do grupo em operação de auxilio, dirigia os serviços graves da ligação primordial. Segundo depreendi, ele podia ver as disposições cromossômicas de todos os princípios masculinos em movimento, depois de haver observado, atentamente, o futuro óvulo materno, presidindo ao trabalho prévio de determinação do sexo do corpo a organizar-se.



Após acompanhar, profundamente absorto no serviço, a marcha dos minúsculos competidores que constituíam a substância fecundante, identificou o mais apto, fixando nele o seu potencial magnético, dando-me a idéia de que o ajudava a desembaraçar-se dos companheiros para que fosse o primeiro a penetrar a peque nina bolsa maternal. O elemento focalizado por ele ganhou nova energia sobre os demais e avançou rapidamente na direção do alvo. A célula feminina que em face do microscópico projétil espermático se assemelhava a um pequeno mundo arredondado de açúcar, amido e proteínas, aguardando o raio vitalizante, sofreu a dilaceração da cutícula, à maneira de pequenina embarcação torpedeada, e enrijeceu-se, de modo singular, cerrando os poros tenuíssimos, como se es¬tivesse disposta a recolher-se às profundezas de si mesma, a fim de receber, face a face, o esperado visitante, e impedindo a intromissão de qualquer outro dos competidores, que haviam perdido a primeira posição na grande prova. Sempre sob o influxo luminoso-magnético de Alexandre, o elemento vitorioso prosseguiu a marcha, depois de atravessar a periferia do óvulo, gastando pouco mais de quatro minutos para alcançar o seu núcleo. Ambas as forças, masculina e feminina, formavam agora uma só, convertendo-se ao meu olhar em tenuíssimo foco de luz. O meu orientador, absolutamente entregue ao seu trabalho, tocou a pequenina forma com a destra, mantendo-se no serviço de divisão da cromatina, cujas particularidades são ainda inacessíveis à minha compreensão, conservando a atitude do cirurgião seguro de si, na técnica operatória. Em seguida Alexandre ajustou a forma reduzida de Segismundo, que se interpenetrava com o organismo perispirítico de Raquel, sobre aquele microscópico globo de luz, impregnado de vida, e observei que essa vida latente começou a movimentar-se.


Havia decorrido precisamente um quarto de hora, a contar do instante em que o elemento ativo ganhara o núcleo do óvulo passivo.


Depois de prolongada aplicação magnética, que era secundada pelo esforço dos Espíritos Construtores, Alexandre aproximou-se de mim e falou:


- Está terminada a operação inicial de ligação. Que Deus nos proteja.



Sentindo a admiração com que eu seguia, agora, o processo da divisão celular, em que se formava rapidamente a vesícula de germinação, o orientador acentuou:


- O organismo maternal fornecerá todo o alimento para a organização básica do aparelho físico, enquanto a forma reduzida de Segismundo, como vigoroso modelo, atuará como imã entre limalhas de ferro, dando forma consistente à sua futura manifestação no cenário da Crosta.


Estava boquiaberto, diante do que me fora dado observar. E, sentindo que o fenômeno da redução perispiritual de Segismundo era um fato espantoso aos meus olhos, acrescentou bondosamente o instrutor:



- Não se esqueça, André, de que a reencarnação significa recomeço nos processos de evolução ou de retificação. Lembre-se de que os organismos mais perfeitos da nossa Casa Planetária procedem inicialmente da ameba. Ora, recomeço significa «recapitulação» ou «volta ao princípio». Por isso mesmo, em seu desenvolvimento embrionário, o futuro corpo de um homem não pode ser distinto da formação do réptil ou do pássaro. O que opera a diferenciação da forma é o valor evolutivo, contido no molde perispirítico do ser que toma os fluidos da carne. Assim, pois, ao regressar à esfera mais densa, como acontece a Segismundo, é indispensável recapitular todas as experiências vividas no longo drama de nosso aperfeiçoamento, ainda que seja por dias e horas breves, repetindo em curso rápido as etapas vencidas ou lições adquiridas, estacionando na posição em que devemos prosseguir no aprendizado. Logo depois da forma microscópica da ameba, surgirão no processo fetal de Segismundo os sinais da era aquática de nossa evolução e, assim por diante, todos os períodos de transição ou estações de progresso que a criatura já transpôs na jornada incessante do aperfeiçoamento, dentro da qual nos encontramos, agora, na condição de humanidade.


A hora ia muita avançada.

Sentindo que Alexandre não se demoraria, acerquei-me, ainda uma vez, do quadro de formação fetal. O óvulo fecundado animava-se de profunda vida, evoluindo para a vesícula germinal.


O orientador amigo convidou-me à retirada e falou:


- Meu trabalho está findo. Entretanto, André, considerando as suas necessidades de valores novos, poderei solicitar aos Construtores a aquiescência de sua cooperação fraterna nos serviços protetores, sempre que você conte com oportunidade de vir até aqui.


Rejubilei-me, encantado. Efetivamente, não desejava outra coisa. Aquele estudo de embriologia, sob novo prisma, era fascinante e maravilhoso.


Enquanto dava expansão à minha alegria íntima, o obsequioso mentor combinava providências, relativas ao meu concurso e aprendizado simultâneos, ouvindo os companheiros.


Daí a momentos, quando trocávamos saudações de despedida, Herculano, com muita simpatia e acolhimento, declarou que permaneceria à minha espera, sempre que eu pudesse voltar à residência de Adelino, para colaborar nos trabalhos de proteção.


Do livro “Missionários da Luz”. Espírito André Luiz.






MISSIONÁRIOS DA LUZAutor Espiritual: André Luiz
Psicografia: Francisco Cândido Xavier
Sinopse: Eurípedes Kühl
Realização: Instituto André Luiz
Título: "MISSIONÁRIOS DA LUZ" – 20 capítulos; 347 páginas
Autor: Espírito ANDRÉ LUIZ (pseudônimo espiritual de um consagrado médico que exerceu a Medicina no Rio de Janeiro)
Psicografia: FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER (concluída em Maio/1945)
Edições: Primeira edição em 1945, pela Federação Espírita Brasileira (Rio de Janeiro/RJ); em Dezembro/2001: 36ª Edição (do 442° ao 461° milheiro)

Conteúdo doutrinário:
Essa obra descreve vários processos mediúnicos e como se desenvolvem as providências do plano espiritual, antes, durante e após as reuniões mediúnicas. Nelas, são pormenorizados atendimentos a encarnados e desencarnados, sobressaindo preciosos ensinamentos.
Há descrição da sublimidade da reencarnação de um espírito, a partir da obra-prima que é a fecundação.
Raramente se encontrará na literatura espírita fonte igual de ensinamentos sobre a programação da existência terrena, que afinal de contas, não passa de uma etapa da bênção maior que é a vida!

SINOPSE - Capítulo a Capítulo

Cap 1 – O psicógrafo – É detalhada a participação de Espíritos protetores na reunião mediúnica, particularmente quanto à psicografia, cujos mecanismos psicossomáticos são detalhados. Muito útil aos médiuns psicógrafos.

Cap 2 – A epífise – É a glândula da vida mental. Segrega “hormônios psíquicos”: As funções espirituais dessa glândula, denominada “pineal” (forma de pinha) são trazidas para os ensinos espíritas, S.M.J., pela primeira vez. Tem potencial magnético controlador das glândulas genitais. Atua qual poderosa usina segregando unidades-força nas energias geradoras. É, sobretudo, a glândula da vida espiritual do homem encarnado.
Cap 3 – Desenvolvimento mediúnico – Demonstra as providências da Espiritualidade, preceden-tes à reunião mediúnica propriamente dita. Médiuns, à visão espiritual, apresentavam: um, "bacilos psíquicos" (larvas) da tortura sexual; outro, intoxicação alcoólica ampla, tendo pequeninas figuras horripilantes, vorazes, ao longo da veia porta...; uma médium, com o ventre superlotado de alimentação, vítima da excessiva alimentação, trazia voracíssimas lesmas (parasitos destruidores).
Cap 4 - Vampirismo – A. Luiz inaugura, no Espiritismo, o emprego das palavras "vampiro/vampirismo", quando trata de obsessor/obsessão (desencarnado, ainda rudemente fixado às sensações físicas, roubando energias e sensações deletérias de encarnado viciado em alcoolismo, tabagismo, toxicomania, sexo desvairado e, de forma geral, nos demais vícios);
- é registrado o problema da alimentação de carne e dedica especial atenção ao tratamento do ser humano para com os animais, acenando com uma "nova era", quando o homem cultivará o solo com amor e os respeitará (aos animais);

Cap 5 – Influenciação – Comentários sobre os Espíritos desencarnados, exploradores, que aguardam à porta dos Centros Espíritas a saída dos médiuns invigilantes... E ainda, sobre o abandono das reuniões mediúnicas, por parte dos médiuns...
Cap 6 – A oração – A.Luiz rememora suas atividades de médico terreno. Agora, diante de um “doente da alma”, vampirizado, como atendê-lo?... O Instrutor espiritual, em resposta, demonstra como a prece constrói fronteiras vibratórias: a oração é o mais eficiente antídoto do vampirismo. Há preciosa informação sobre os bilhões de raios cósmicos que a cada minuto descem sobre a fronte humana, oriundos do solo, da água, dos metais, dos vegetais, dos animais e dos próprios seme-lhantes — todos, sem contar os raios solares, caloríficos e luminosos; igualmente, emanam sobre cada um de nós, os terrenos, trilhões de raios psíquicos(!)
Cap 7 – Socorro Espiritual – É lecionado que à noite há mais facilidade para ajuda espiritual, quando os raios solares diretos não desintegram certos recursos dos cooperadores espirituais. Também é à noite que os encarnados sofrem os fenômenos desastrosos mais sérios da circulação, pela invigilância na criação de fantasmas cruéis, no campo vivo do pensamento.
O capítulo registra um caso de "moratória" (enfermo grave, prestes à desencarnação, que recebe energias que lhe acrescentam mais 5 meses de existência terrena).

Cap 8 – No plano dos sonhos – É citado o curso espiritual ministrado por Instrutor espiritual a 300 (trezentos) alunos, encarnados e desdobrados pelo sono, dos quais apenas 32 (trinta e dois) assimilam as lições. É sugerido como o sono pode ser excelente oportunidade de boas realizações e de aprendizado, além da chance de reencontro com parentes ou amigos desencarnados. Há o relato singular do pavor-pesadelo de um encarnado que ao dormir depara-se com um amigo desencarnado, sobre o qual fizera alusões desabonadoras durante o dia...
Cap 9 – Mediunidade e fenômeno – O capítulo explana sobre a necessidade de planejamento, disciplina e construtividade para todos os candidatos às atividades mediúnicas, os quais se iniciarão com trabalhos em pequenas tarefas, para depois, progressivamente, alcançarem grandes obras. Há interessantíssimo registro: o Espírito de Verdade é Jesus(!).
O desenvolvimento mediúnico não deve ser provocado. As expressões fenomênicas nos trabalhos mediúnicos deverão estar em plano secundário, pois o Espírito é tudo.

Cap 10 – Materialização – Mostra-nos este capítulo como Sessões de Materialização são trabalhosas, expondo seus grandes riscos para os médiuns, tendo em vista que poucos reúnem as condições espirituais que elas exigem: valores morais legitimamente consolidados.
NOTA: Lembramos aos leitores que estávamos em 1945 — reuniões de materialização aconteciam quase como rotina... e ainda por cima, em residências...

Cap 11 – Intercessão – Atendendo à solicitação pungente de uma viúva (encarnada, desdobrada pelo sono) o Instrutor, levando A.Luiz, vai à residência dela. Lá, se deparam com inúmeros Espíritos desencarnados, familiares diversos, atraídos pelas vibrações pesadas e doentias dos encarnados. Esses Espíritos estavam envolvidos em círculos escuros, à mesa de refeições da família, absorvendo as emanações dos alimentos (pelas narinas). É explicado como tal se processa: vampirização recíproca... É-nos mostrado o terrível ambiente de um matadouro, com Espíritos desencarnados atirando-se vampirescamente ao sangue dos animais abatidos. O capítulo mostra ainda o martírio de um suicida, atormentado pelo remorso de ter assassinado um amigo para roubar-lhe a noiva.
Cap 12 – Preparação de experiências – Registra providências no Planejamento de Reencarnações e os mapas dos futuros corpos físicos; trata ainda do interessante e raríssimo caso dos "completistas" (encarnados que aproveitam todas as oportunidades de evolução).
A medicina do futuro, certamente levará em conta o psiquismo, identificando-o como responsável, senão por todas, mas pela maioria das patologias.

Cap 13 – Reencarnação – (seguramente o mais importante de todo o livro) - Após comentários sobre o perdão e o sexo, descreve a sublimidade que é a reencarnação de um Espírito, a partir da obra-prima que é a fecundação. É focalizada a interessantíssima questão das “fecundações físicas” e das “fecundações psíquicas”, aquela, nascendo das uniões físicas, no domínio das formas, e esta, das uniões espirituais, nos resplandecentes domínios da alma. Somos informados que o corpo perispiritual, que dá forma aos elementos celulares, está fortemente radicado no sangue(!).
NOTA: Raramente se encontrará na literatura espírita fonte igual de ensinamentos sobre a programação da existência terrena, que afinal de contas, não passa de uma etapa da bênção maior que é a vida !

Cap 14 – Proteção – É citado que muitos são os casais “sem a coroa dos filhos”, por terem agido egoisticamente, desde o presente ou em vidas passadas. Há a informação sobre a reencarnação, que só se completa por volta de sete anos do parto.
É descrita a proteção espiritual na fase fetal e embrionária do ser humano.

Cap 15 – Fracasso – O capítulo é de grande densidade dramática, narrando como uma gravidez é interrompida por invigilância (aborto indireto) da mulher grávida que o pratica pela terceira vez: sai pela noite, em busca de prazeres mundanos; no amanhecer, perde aquele que lhe seria filho (o aborto é-lhe incensado por Espíritos que a vampirizavam e que por isso mesmo não lhe admitiam ser mãe, já que com um filho, não mais lhes daria atenção...).
Cap 16 – Incorporação – O capítulo demonstra todo o processo da psicofonia ("incorporação"). Um Espírito desencarnado é levado à reunião mediúnica do mesmo grupo de médiuns que participava, quando encarnado. A médium que o atenderá na reunião (à noite), horas antes tem graves problemas conjugais (marido alcoólico) e é-nos demonstrado o abençoado apoio espiritual que ela então recebe, mercê do seu devotamento.
Cap 17 – Doutrinação – Ao doutrinar Espíritos os médiuns acabam doutrinando-se...
Aqui vemos o Espírito de um sacerdote ser doutrinado por interferência de sua mãe (também desencarnada) que se responsabilizava por tê-lo induzido ao sacerdócio, quando encarnados, sendo que, ao contrário, ele renascera para elevada tarefa no campo da filosofia espiritualista. É citada uma interessante contrapartida das sessões de materialização: quando elas acontecem no Plano Espiritual, para que desencarnados sofredores sejam atendidos na doutrinação... por encarnados. Há explicações sobre a ocorrência da doutrinação, nas reuniões mediúnicas, justificando porque às vezes ela precisa ser realizada por encarnados (doam seu “magnetismo humano”).
NOTA: O capítulo mostra como a Espiritualidade atende dois Espíritos necessitados:
- o primeiro desconhece a própria morte — vê, à distância, seus despojos em decomposição;
- o segundo, quer agredir aos encarnados, com auxílio da médium — vê-se diante de um esqueleto, de terrível aspecto (composto pelos Espíritos Instrutores), desistindo da agressão.
Na nossa opinião, tão forte recurso de convencimento requer enorme prudência na sua aplicação por médiuns doutrinadores encarnados, pelo que o desaconselhamos.

Cap 18 – Obsessão – Trata da obsessão e da desobsessão: vários vingadores, sendo previamente doutrinados no Plano Espiritual, antes de se manifestarem pelos médiuns.
O capítulo sugere extrema cautela aos médiuns lidadores das obsessões, muitos dos quais adiantam diagnósticos apressados e fazem promessa de curas no campo físico...

Cap 19 – Passes – É narrado o caso de um encarnado, renitente na invigilância, que após ser atendido por dez vezes com socorro completo, será deixado entregue a si mesmo, só voltando a ser socorrido pela Espiritualidade após adotar nova resolução: receberá, por ora, alguma melhora, apenas.
Trata o capítulo, de forma detalhada, dos passes — especifica a necessidade de conhecimentos especializados, além de critério e responsabilidade por parte dos passistas.
Ao serem descritas várias modalidades de passes, com movimentos das mãos, de alto a baixo, rotatórios e longitudinais, isso parece induzir-nos a ter muita cautela quando quisermos avançar críticas às técnicas dos passes...

Cap 20 – Adeus – O Instrutor espiritual irá para estágio em esferas mais altas.
Antes, promove reunião em “Nosso Lar” para as despedidas com seus inúmeros alunos, dentre os quais A.Luiz. Comovidos, todos, vêem o abnegado Instrutor orar com infinita beleza, “como se conversasse com o Mestre presente, embora invisível”.

PERSONAGENS CITADOS:
ANDRÉ LUIZ - é o Autor Espiritual. Permaneceu no Umbral por oito anos. Somente quando orou com fé pôde ser recolhido à Instituição Espiritual "Nosso Lar" (situada na psicosfera da cidade do Rio de Janeiro), por interferência de sua mãe. Graças à sua abnegação e trabalhos incansáveis de auxílio ao próximo, alguns anos mais tarde conquistou a faculdade da volitação.
- Informa, ao fim do livro "NOSSO LAR" (o primeiro de sua série), que recebeu a comenda de "Cidadão de Nosso Lar". (André Luiz é um exemplo dignificante de auto-reforma).
- Na obra "OS MENSAGEIROS", reporta vários aprendizados que alcançou junto à equipe de auxiliares-aprendizes, no "Centro de Mensageiros", quando, após estágio e uma viagem à Crosta, teve oportunidade de pôr em prática as lições recebidas.
- Agora, com "MISSIONÁRIOS DA LUZ", A.Luiz aprimora os conhecimentos já auferidos, estagian-do com o Instrutor ALEXANDRE num recinto terrestre, onde se desenrolam inúmeras atividades mediúnicas.

OBS: Citaremos a seguir os nomes dos personagens do livro "MISSIONÁRIOS DA LUZ", colocando entre parênteses (d) = desencarnado; (e) = encarnado, e os respectivos capítulo e página onde são pela primeira vez mencionados.

Instrutor ALEXANDRE (d) - 1/11 - Espírito de "elevadas funções" no "NOSSO LAR". Está presente de ponta a ponta no livro "MISSIONÁRIOS DA LUZ”. Tem profunda sabedoria e bondade.
CALIXTO (d) - 1/17 - comunicante por psicografia.
CECÍLIA (e) - 6/65 - desdobrada, em sono, atende ao marido que é doente grave (anomalias psíquicas, ligadas ao sexo)
JUSTINA (d) - 7/70 - amiga do Instrutor ALEXANDRE
ANTÔNIO (e) - 7/70 - filho de JUSTINA (está gravemente enfermo - é contemplado com a "morató-ria" de + 5 meses de vida física)
Irmão FRANCISCO (d) - 7/72 - chefe de grupo socorrista
AFONSO (e) - 7/73 - quando desdobrado pelo sono, é prestimoso doador de energias espirituais
VIEIRA e MARCONDES (e) - 8/85 - alunos faltosos ao Curso do Instrutor ALEXANDRE
SERTÓRIO (d) - 8/85 - chefe de grupo espiritual que freqüenta referido Curso
BARBOSA (d) - 8/90 - aborreceu-se com VIEIRA e esperou-o adormecer para "acertar contas", ou melhor, impedir que VIEIRA, quando na vigília, continuasse a recriminá-lo
Irmão CALIMÉRIO (d) - 10/108 - Instrutor Espiritual
Irmão ALENCAR (d) - 10/113 – médico, controlador mediúnico
VERÔNICA (d) - 10/113 - enfermeira
ESTER (e) - 11/123 - ficou viúva do segundo noivo, RAUL, que foi assassinado (o primeiro noivo, NOÉ, suicidou-se)
ETELVINA (e) - 11/124 - prima de ESTER - tem razoável evolução espiritual
AGOSTINHO e esposa (e) 11/129 - tios de ESTER - idosos, pobres, queixosos da vida
ROMUALDA (d) - 11/147 - auxiliar da Turma de Socorro do Ministério do Auxílio
SEGISMUNDO (d) - 12/154 - preparando-se para reencarnar (em processo normal)
ADELINO e RAQUEL (e) - 12/155 - serão pais de Segismundo, que em vida passada, prejudicou-os
HERCULANO (d) - 12/155 - Espírito elevado
JOSINO (d) - 12/161 – Assistente, auxiliar do "Planejamento de Reencarnações"
MANASSÉS (d) - 12/167 - auxiliar do "Planejamento de Reencarnações"
SILVÉRIO (d) - 12/168 - prestes a reencarnar - aceitou, resignado, existência com duração de aproximadamente 70 anos, com lesão na perna, como "antídoto à vaidade"...
ANACLETA (d) - 12/172 - auxiliar do "Planejamento de Reencarnações"
JOÃOZINHO (e) - 13/184 - criança, filho de ADELINO e RAQUEL
APULEIO (d) - 14/236 - chefe dos "Espíritos Construtores"
VOLPINI (d) - 15/251 - reencarnante em processo complicado - (mãe já está no 7° mês de gestação)
CESARINA (e) - 15/252 - futura mãe de VOLPINI - por invigilância, dá à luz a um natimorto, que viria a ser VOLPINI, o qual, antes do aborto, foi socorrido por ALEXANDRE
FRANCISCA (e) - 15/257 - amiga de CESARINA, tenta dissuadi-la da invigilância
DIONÍSIO FERNARDES (d) - 16/260 - recolhido a uma Instituição de Socorro
OTÁVIA (e) - 16/260 - médium de psicofonia - marido tenta impedi-la do exercício mediúnico
EUCLIDES (d) - 16/261 - cooperador espiritual no Centro Espírita
LEONARDO (e) - 16/265 - marido de OTÁVIA - é pessoa perturbada
GEORGINA (e) - 16/270 - tia de LEONARDO - auxilia OTÁVIA a não faltar ao C.E.
MARINHO (d) - 17/278 - Espírito em dificuldades (foi sacerdote católico)
NECÉSIO (d) - 17/284 - cooperador espiritual, também sacerdote católico
ANACLETO (d) - 19/325 - chefia trabalhos de passes
LÍSIAS (d) - 20/337 - amigo de ANDRÉ LUIZ
EPAMINONDAS (d) - 20/344 - discípulo mais respeitável do Mentor ALEXANDRE

TERMOS POUCO USADOS:
A título de colaboração, registramos abaixo o significado ou origem de alguns termos pouco usados, que eventualmente aparecem ao longo do texto de “Missionários da Luz”:

TERMOS
CAPÍTULO
PÁGINA
S I G N I F I C A D O
Refocilar-se
2
23
(verbo) = refestelar-se; recrear-se (no charco)
Aluviões
3
28
(subst) = depósitos de cascalhos/corpúsculos
Epidídimo
3
28
(subst) = pequeno corpo situado nos testículos
Cromatina
3
30
(subst) = substância do núcleo celular
Nefron
3
31
(subst) = unidade morfológica do rim
Sigmóide
3
31
(subst) = válvula ou cavidade do intestino grosso/humano
Escalracho
4
38
(subst) = gramínea nociva às searas
Avelhantado
5
46
(adjet) = tornado velho prematuramente
Coorte
5
47
(subst) = multidão de pessoas; tropa
Encomiásticas
5
48
adjet) = elogiosas
Azáfama
7
76
(subst) = muita pressa; urgência; trabalho muito ativo
Bulha
7
76
(subst) = confusão de sons
Remoques
8
89
(subst) = insinuações maliciosas; zombaria
Torva
11
134
(adjet) = perturbada; sombria
Rútila
12
166
(adjet) = resplandecente; muito brilhante
Tálamo
13
207
(subst) = leito conjugal
Querençoso
13
232
(adjet) = benévolo; afetuoso
Símile
14
244
(subst) = semelhante; análogo
Gliais
16
267
(subst) = células do sistema nervoso
Bulhento
16
269
(adjet) = desordeiro; arruaceiro
Patibulares
17
285
(adjet) = figura de aspecto criminoso
Stradivarius
18
318
(subst) = nome de famoso fabricante de violinos
Exorna
19
331
(verbo) = ornamenta; enfeita; orna
RIBEIRÃO PRETO/SP
Eurípedes Kühl – Responsável
SOCIEDADE ESPÍRITA ALLAN KARDEC
Rua Monte Alverne, 667 – Ribeirão Preto/SP

Calendário Assistência 2019

Tenda Espírita Mamãe Oxum

Calendário 2019

FEVEREIRO

MARÇO

ABRIL

Não haverá GIRA.

Estaremos realizando obras de manutenção no imóvel.

De 01/03 à 10/03 – TERREIRO FECHADO

15/03 - sexta-feira – Saúde

20/03 - quarta-feira – Café com Vovó Catarina

22/03 - sexta-feira – Caboclos

29/03 - sexta-feira - Exus

03/04 - quarta-feira – Estudo da Umbanda

05/04 - sexta-feira – Pretos-Velhos

12/04 - sexta-feira – Saúde

17/04 - quarta-feira – Café com Vovó Catarina

23/04 - terça-feira – Saudação à Ogum Às 20h

26/04 - sexta-feira - Malandros

MAIO

JUNHO

JULHO

30/05 - sexta-feira – Pretos-Velhos

10/05 - sexta-feira – Saúde

13/05 - segunda-feira – Festa dos Pretos-Velhos às 20h

17/05 - sexta-feira – Caboclos

22/05 - quarta-feira – Café com Vovó Catarina

24/05 - sexta-feira – Saudação à Santa Sara com Corrente de Ciganos

31/05 - sexta-feira - Exus

05/06 - quarta-feira – Estudo da Umbanda

07/06 - sexta-feira – Pretos-Velhos

13/06 - quinta-feira – Saudação à Santo Antonio com Corrente de Exus às 20h

19/06 - quarta-feira – Café com Vovó Catarina

21/06 - sexta-feira – Caboclos

28/06 – sexta-feira – Malandros

03/07 - quarta-feira – Estudo da Umbanda

05/07 - sexta-feira – Pretos-Velhos

14/07 – domingo – SEMINÁRIO das 10h30min às 18h

17/07 - quarta-feira – Café com Vovó Catarina

19/07 - sexta-feira – Caboclos

26/07 – sexta-feira – Exus e Saudação à Nanã

AGOSTO

SETEMBRO

OUTUBRO

02/08 - sexta-feira – Pretos-Velhos

07/08 - quarta-feira – Estudo da Umbanda

09/08 - sexta-feira – Saúde

16/08 - sexta-feira – Saudação à Obaluaê / Omolu

18/08 – Domingo – Calunga às 09h

21/08 - quarta-feira – Café com Vovó Catarina

23/08 – sexta-feira – Caboclos

30/08 - sexta-feira - Malandros

04/09 - quarta-feira – Estudo da Umbanda

06/09 - sexta-feira – Pretos-Velhos

13/09 - sexta-feira – Saúde

18/08 - quarta-feira – Café com Vovó Catarina

20/09 - sexta-feira – Caboclos

27/09 – sexta-feira –Distribuição de doces às 15h

Não tem Gira

29/09 – Festa de São Cosme e São Damião às 16h

02/10 - quarta-feira – Estudo da Umbanda

04/10 - sexta-feira – Pretos-Velhos

11/10 – sexta-feira – Saúde

12/10 – Sábado – Cachoeira/Mata

16/10 - quarta-feira – Café com Vovó Catarina

18/10 - sexta-feira – Caboclos

25/10 - sexta-feira – Exus

NOVEMBRO

DEZEMBRO

01/11 - sexta-feira – Esteira Das Almas

06/11 - quarta-feira – Estudo da Umbanda

08/11 - sexta-feira – Saúde

15/11 - sexta-feira – Dia Nacional da Umbanda – Orixás – 20h

20/11 – quarta-feira – Café com Vovó Catarina

22/11 - sexta-feira – Festa aos Malandros

25/11 - segunda-feira /Calunga 17h

30/11 – Sábado - Praia

-

08/12 – Domingo – Saudação aos Orixás –

Encerramento das Atividades/ 2019

Atenção:

As Giras têm início às 20h e as fichas são distribuídas a partir das 19:45 até às 21h.

As consultas não são cobradas. “Dai de graça o que de graça recebestes de Deus”.

A Tenda Espírita Mamãe Oxum é um Templo Sagrado, respeite-o como tal.

Evite roupas ousadas como shorts, mini blusas, vestidos muito decotados ou curtos. Respeitem as Entidades.

Mãe Márcia “Anêrê de Oxum”

Baixe este calendário em PDF acessando este link:




Printfriendly